Mudança de rumo na guerra da reforma da previdência. Saem governadores e prefeitos, entram partidos e suas raposas.
Rápido nas decisões táticas, o presidente Jair Bolsonaro parece comportar-se como um capitão, que, nos combates e nas batalhas, define o rumo da ação. Os generais pensam a estratégica. O capitão, como diz o nome vindo do baixo latim, capitanis, é o cabeça, o que vai na frente.
É o que parece para quem vê de fora. Tanto quanto os demais segmentos que operam na área da política e do poder, os jornalistas pouco sabem do que se passa nas intimidades do Palácio do Planalto.
Fora Olavo de Carvalho, o guru, que dá pistas sobre o que se passa na cabeça da família Bolsonaro, as palavras de sensatez política estão saindo da boca dos generais, que agem mais para conter o arroubo de seu chefe do que com propostas. Esta mudança tática, chamando os presidentes dos partidos para dialogar, era um movimento óbvio, mas o “timming” saiu da cabeça do próprio presidente.
Em busca de apoio à reforma
Tantas metáforas para chamar o assunto relevante: o presidente ainda não compôs seu sistema de forças. No seu primeiro círculo deram um peso excessivo à capacidade de governadores e prefeitos dobrarem os parlamentares de seus estados e municípios.
Daí vinha a confiança de Bolsonaro quando vivia dizendo que o Congresso seria soberano. Ou seja: fizera seu papel mandando o projeto de Paulo Guedes para a Câmara.
Daqui para frente seria com os deputados, talvez pensando que os governadores enquadrariam suas bancadas. Quando foi tirar a pressão, viu que os chefes de executivos regionais não têm a força que se lhes atribuiu.
Enquanto o governo alimentava esperanças de uma mudança no quadro político da Câmara, as velhas raposas felpudas alisavam seus pelos. Chegaria seu momento. É o que se vê neste nesta hora.
Não que a manobra fosse inteiramente inócua. Entretanto, o deputado não se reporta a prefeitos e governadores. Estes mandatários não têm influência eleitoral a esse ponto.
Até aqui, jogo empatado
Tampouco os presidentes de partidos podem obrigar parlamentares a votar assim ou assado, mas ainda são a melhor porta de entrada para o obscuro e perigoso quarto escuro dos conchavos. Os presidentes foram bem claros: todos, como bons patriotas, apoiam a reforma da previdência e toda e qualquer medida que promova o progresso e o bem-estar do país.
Entretanto, bota “entretanto” nisso, não devem fechar questão. Esta é uma arma para ser usada lá na frente e custa caro.
Então, botando a bola no chão: Bolsonaro já mexeu três pedras no tabuleiro do xadrez para reduzir ao máximo a força do “toma-lá-dá-cá”, como se convencionou chamar o presidencialismo de coalizão.
Primeiro entrou com as bancadas temáticas, para formar seu ministério. Com isto neutralizou boa parte das críticas, mas não teve um efeito consistente nos parlamentos. Só a ruralista revelou alguma consistência.
Em segundo, apelou para desespero de governadores e prefeitos, que estão com a corda da forca no pescoço. Também se revelou insuficiente.
Então, abandonando a ofensiva, deu um passo atrás convocando os chefes dos partidos. Não resolve, mas fortalece.
Assim, volta aqui a figura do capitão. Se chamar os presidentes dos partidos foi uma simples manobra diversionista, como se diz na arte da guerra, atacar aqui para vencer acolá, está mexendo em casa de marimbondo.
Se for uma rendição com uma volta à “velha política”, estará vendendo muito barata a tinta de sua caneta. Portanto, não há um quadro nítido: governadores e prefeitos fracos e em ruínas, presidentes de partidos esfacelados (alguns respondendo a processos) e uma oposição sem proposta concreta além do negativismo. Este é o cenário.
Lula e FHC entram em campo
Então qual o fato novo? Há que esperar para ver com maior clareza no meio de tanta fumaça (outra característica dos campos de batalha antigos, muita fumaça de pólvora dos mosquetes), pois neste domingo dois pilares de sustentação deram seus recados: Fernando Henrique Cardoso, escrevendo em O Globo e na Folha de S. Paulo, mandou parar de ranzinzice e olhar para a frente.
De sua cela, em Curitiba, Lula da Silva manda a palavra de ordem por escrito, também nas páginas da Folha de S. Paulo, dizendo com todas as letras que ele é o chefe da oposição. Está dada a partida para uma possível aliança paulista de tucanos e petistas, voltando à fórmula da eleição para Senador em 1978, da sublegenda do antigo MDB. Tempos interessantes vêm aí.