Medo da cadeia pode levar políticos a melhorar presídios

Ex-senador Luiz Estevão. Foto Bruno Stuckert/ObritoNews

Políticos costumam se expressar em máximas para justificar suas omissões e mazelas.  Por muito tempo “obra debaixo da terra não dá voto” virou a desculpa predileta para o baixo investimento em saneamento básico.

Pelo mesmo critério, governos em geral não gostam de investir na construção e manutenção de presídios. Alegam que não dá voto. Temem apenas os prejuízos eleitorais causados por rebeliões, massacres, fugas de presos…

A cada barbárie, a grita, aqui e no exterior, é seguida de promessas de verbas e providências. Passado o surto, promessas continuam promessas, problemas se sucedem na vasta agenda nacional, e a situação nos presídios só se agrava.

De novo, o momento é de promessas. Dessa vez, dá para acreditar nelas? Todos os precedentes indicam que não. Os políticos têm outras prioridades, mais rentáveis em todos os sentidos.

Mas isso pode mudar. Se não conseguirem barrar a Operação Lava Jato, com a anistia ao Caixa 2 ou alguma surpreendente decisão judicial, a situação deles vai se complicar. A expectativa é de que a Lava Jato vá  gerar centenas e centenas de filhotes que vão investigar milhares e milhares de políticos  Brasil afora.

Muitos podem passar uma temporada na cadeia. Existem celas com alguma qualidade para todos eles?  Esse é o tipo de preocupação que até recentemente não era sentida por eles nem em seus piores pesadelos.

Os tempos são outros.

Não dá mais também para pensar em saídas como a do previdente ex-senador Luiz Estevão. De acordo com denúncia do Ministério Público, Estevão — talvez o empresário mais rico de Brasília — usou uma empresa de fachada para reformar um bloco no Presídio da Papuda. Hoje, com algum conforto, é ali que ele está morando.

Muito menos com a que usufruiu como prisão o lendário narcotraficante Pablo Escobar, no começo dos anos 90. Escobar construiu La Catedral, uma espécie de resort, no município de Envigado, vizinho de Medellin.

Com a perspectiva, digamos, de uma superlotação de presos de colarinho branco, os juízes podem optar por penas alternativas, prisões domiciliares, tornozeleiras… Mas, para cada um dos milhares de políticos suspeitos, históricos beneficiários da impunidade, a questão é se dá para apostar em punições mais brandas, uma verdadeira roleta-russa.

Para eles, talvez seja mais barato encarar a necessidade de tornar as cadeias brasileiras apenas um lugar onde os condenados cumpram penas com um mínimo de dignidade.

Que continue o pesadelo deles.

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