A guerra na Rocinha agora é entre o PCC e o Comando Vermelho

A vitória ou a derrota nas brigas entre gangues armadas no mundo do crime depende da capacidade de fazer alianças para aumentar o poder de fogo. Como na política, não há limites para trocas de parceiros, traições, desde que produzam resultados.

É o que rola agora no Rio de Janeiro. Ali, a Amigos dos Amigos (ADA), segunda maior facção do tráfico de drogas no Rio de Janeiro, tinha como joia de sua coroa a cobiçada favela da Rocinha.

A disputa interna pela gestão desse tesouro rachou a ADA. Capo na facção, Antônio Bonfim, o Nem, inquilino de uma cela em uma penitenciária de segurança máxima em Rondônia, resolveu destituir um de seus homens de confiança, Rogério Avelino, o 157, que o substituiu na gestão da quadrilha na Rocinha.

Além de cúmplices de outras favelas, Nem resolveu arriscar na empreitada ao costurar o apoio do PCC, o Primeiro Comando da Capital, facção criada a partir de presídios em São Paulo que se tornou líder nesse submundo dentro e fora das cadeias.

Em seu plano de expansão, o PCC rompeu no ano passado o pacto de não agressão com o Comando Vermelho, maior facção do Rio de Janeiro e segunda maior do Brasil. Virou guerra aberta em vários Estados e em países vizinhos.

Desde então uma das prioridades do PCC é conquistar espaço no território de seu rival, o Rio de Janeiro. A Rocinha sempre foi o principal alvo, por ser estratégica na distribuição e venda de drogas na região mais rica da cidade.

O PCC agora resolveu aproveitar a oportunidade.

Aos trancos e barrancos, está em curso uma operação conjunta entre forças federais e estaduais no Rio de Janeiro. Elas ficaram algo travadas por uma desconfiança recíproca. Nenhuma das partes se sente à vontade para abrir todas as cartas.

Mesmo assim, compartilham, em sigilo, algumas informações preciosas.

Por exemplo, a atuação do PCC na tentativa da turma de Nem de retomar a Rocinha. O que se apurou no Rio, e foi compartilhado com o comando da operação em Brasília, é que o PCC desembolsou grana para bancar a tomada do poder na Rocinha.

Pelo que se sabe até agora, a ajuda ficou nisso. Não mandou, por exemplo, combatentes para a batalha, até porque Nem e seus parceiros do Rio têm soldados suficientes para enfrentar a guerra.

Pelo que as forças de segurança no Rio já apuraram, Rogério 157 conseguiu dar troco. Pediu e obteve um compromisso de proteção do Comando Vermelho.

Áudios interceptados pela polícia, divulgados pelo O Globo no fim-de-semana, mostram mais uma reviravolta entre a bandidagem no Rio. Os interlocutores contam que a ordem de tratar como amigos os antes inimigos do bando de Rogério 157 partiu de Bangu 3, presídio do Complexo de Gericinó, sob controle do Comando Vermelho.

Por mais assustador que seja, cada facção cuida de seu galho nos presídios de Bangu.

Em outro áudio, a ordem é recepcionar os fugitivos leais a Rogério 157 que se escondem do avanço das tropas estaduais e federais na Rocinha:

“Todos os que rodarem no bonde do RG tem que vir pra nós. A Rocinha é nós”.

Não basta conhecer o jogo dessas quadrilhas.

Desde os massacres em presídios, palco da guerra entre PCC e Comando Vermelho e seus aliados, a reação, seja estadual ou federal, é sempre de improviso.

A guerra se alastra. Não se conhece um plano consistente para virar esse jogo.

Parece mais um dos buracos negros em que o país se afunda.

A conferir.


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