Exército recusa punir general Mourão por ameaça à democracia

Os dias são diferentes, mas nem tanto. O general Olímpio Mourão, que desencadeou o golpe militar de 1964, saiu vitorioso da empreitada. Após 53 anos, o general Antonio Mourão, ameaçou, sexta-feira passada, com uma intervenção militar se a Justiça não afastar os corruptos da vida pública.

Ele é um general importante. É Secretário de Economia e Finanças do Exército e um dos 15 integrantes de seu Alto Comando. Fez a ameaça, fardado, em uma reunião com maçons. Ali parece ter agradado a plateia, fora causou um susto.

Alguns de seus chefes definiram sua manifestação como uma mera “bravata”, uma voz isolada nas tropas. Foi, inclusive, marcada para essa quarta-feira (20) uma reunião entre o ministro da Defesa, Raul Jugmman, e o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, para decidir qual procedimento seria adotado contra Mourão.

Nessa madrugada (20), no programa Conversa com Bial, o comandante Villas Bôas, minimizou a história e afirmou que não haverá nenhuma punição formal contra o general Mourão.

Com sua maneira tranquila de expressar, Villas Bôas disse que já conversou com ele. Que é preciso entender o contexto em que ele falou. “A maneira com que o Mourão, um grande soldado, se expressou, deu margem a essas interpretações. Mas ele iniciou sua fala dizendo que segue seu comandante”.

Na Esplanada dos Ministérios, o boneco do general Mourão numa manifestação que prega o golpe militar. Novembro de 2015. Foto OrlandoBrito

Depois de passar a mão na cabeça do colega, Villas Bôas respondeu às perguntas de Pedro Bial sobre a ditadura militar. Com fala mansa, ele foi taxativo: a intervenção militar foi causada por exigência da sociedade e uma quebra de hierarquia nas Forças Armadas.

Não fez sequer uma crítica explícita à ditadura, mas cravou um elogio: durante o regime militar o Brasil passou da quadragésima sétima economia no mundo para a oitava posição.

Villas Bôas, que conhece bem a Amazônia, também disparou sua metralhadora contra os interesses internacionais, a atuação das Ongs, a política indigenista, a questão dos minérios… Mas aí é outra conversa.

A impressão que me ficou após assistir a entrevista de Villas Bôas é de que a versão de que o general Mourão, com seu jeitão de soldado soldado, tivesse apenas feito um bravata, não é bem assim.

A sensação é que, na medida em as elites civis — políticas, econômicas e corporativas– se meteram em um brejo sem precedentes, os militares se sentem mais à vontade, inclusive para algumas revisões históricas.

Como na sociedade civil, a indignação entre os militares contra a corrupção desenfreada está causando um estrago.

Nada que justifique as ameaças de Mourão à Justiça e à democracia.

Mesmo assim elas são preocupantes.

A conferir.

Veja também: Militares apontam candidatura Mourão (Helena Chagas)

Deixe seu comentário