Um dia de pancadaria suprapartidária

Sérgio Moro na Comissão de Justiça da Câmara

Com exceção das torcidas no Fla x Flu político das redes sociais, nada no mundo é absoluto. Se por um lado são verdadeiros os perigos de mecanismos de controle superpoderosos demais (é aquela pergunta que já fizemos: quem vigia os Vigilantes?), por outro lado é inegável o incômodo generalizado que a Operação Lava-Jato e todos os seus afluentes vêm provocando no mundo político.

Na verdade, uma coisa alimenta a outra. A Lava-Jato é fruto de um momento em que a Justiça, aliada ao Ministério Público e à Polícia Federal, se sobrepõe sobre os demais poderes para promover o saneamento de um sistema político por diversas razões falido e corrompido. Na verdade, como diz Sergio Moro sempre, situação semelhante à vivida pela Itália na época da Operação Mãos Limpas, a mãe declarada da Lava-Jato. Diante de um Executivo e de um Legislativo fragilizados, o Judiciário e os órgãos de controle crescem. E podem extrapolar, quando excessivamente robustecidos.

Alguns capítulos anteriores dessa novela vinham apontando muito para os perigos desses superpoderes da Justiça e do controle. O capítulo desta quinta-feira (30) virou mais para o outro aspecto. Foi um dia de pancadaria suprapartidária. Um dia que mostra claramente o tamanho do reboliço que a Lava-Jato e outras ações da Justiça que vão seguindo paralelas a ela provocam na classe política.

No mesmo momento em que deputados do PT batiam duramente no juiz Sergio Moro durante uma audiência na Câmara, o mesmo Moro condenava a 15 anos de prisão o inimigo número 1 dos petistas, o ex-deputado Eduardo Cunha, aquele que conduziu o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

Dilma Rousseff que será na semana que vem alvo de julgamento pelo Tribunal Superior Eleitoral. Não apenas ela, mas sua chapa nas últimas eleições presidenciais, composta com o hoje presidente Michel Temer. O posicionamento do Ministério Público é pela cassação da chapa. Ou seja: se essa posição prevalecer, Temer deixará de ser presidente. O MP considera, no entanto, que não há elementos que indiquem participação objetiva de Temer. Então, a posição é pela cassação da chapa, mas sem tornar Temer inelegível. Mesmo assim, caso seja essa a posição final do TSE no julgamento, a cassação da chapa não deixaria de ser um grande prejuízo também para Temer.

Prejuízo causado pelo seu hoje parceiro PSDB. Foram os tucanos que entraram com a ação no TSE que julga a chapa Dilma/Temer. Tucanos ontem chamuscados por duas ações da Justiça. A primeira cassou o mandato do governador do Pará, Simão Jatene, por abuso de poder econômico. A segunda foi ação da Procuradoria Geral da República que denunciou o governador de Goiás, Marconi Perillo, por corrupção passiva, pelas denúncias que foram investigadas na CPI do Cachoeira.

No dia da pancadaria suprapartidária, o PP tornou-se o primeiro partido diretamente responsabilizado pela Lava-Jato em ação para devolver o dinheiro que recebeu de propina. Cobra-se do partido nada menos que R$ 2,3 bilhões. O PP é um partido pequeno. Imagine-se o que se virá a cobrar de partidos maiores, como o PT e o PMDB.

Fechando a ciranda, o PMDB, com nervos à flor da pele. Com o ex-presidente do Senado Renan Calheiros visivelmente incomodado com o desenrolar dos acontecimentos, divulgando vídeo com duras críticas ao governo de Michel Temer. Michel, o velho companheiro que comanda o PMDB de Renan há anos. Em dia de pancadaria suprapartidária, teve gente que andou socando até a si mesmo…

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