Como dissemos por aqui, a largada da corrida eleitoral foi dada em Monteiro, na Paraíba, no comício destinado a reinaugurar as obras de transposição do São Francisco, com a profusão de imagens messiânicas de Luiz Inácio Lula da Silva fazendo o milagre de multiplicação da água. Mas no fim de semana, não se destacou apenas Lula e a sua capacidade de reunir multidões. Ou Dilma Rousseff, a criatura de Lula, de novo ali ao seu lado. Destacou-se também a presença de Ciro Gomes, do PDT.
Houve um propósito além de demarcar o papel de Ciro no projeto da transposição. Ele foi o primeiro ministro da Integração de Lula. E sempre fez uma defesa veemente da ideia quando ela sofreu questionamentos de grupos ambientalistas. Ficou famosa a sua discussão com a atriz Letícia Sabatella em um ato no Congresso Nacional.
Na verdade, muitas vezes nos últimos tempos Ciro fez defesas veementes do próprio Lula e de Dilma dentro dos desdobramentos da Operação Lava-Jato e do processo de impeachment. Fez críticas duras também. Especialmente relacionadas a opções econômicas dos governos petistas.
A condução da estratégia de Ciro parecia basear-se na ideia de se apresentar como um contraponto que pudesse herdar os votos dos eleitores que nas últimas eleições optaram pelo PT. A trajetória de desgaste de Dilma vinha dando a impressão de se abrir no horizonte a possibilidade de surgimento de alternativas à dicotomia PTXPSDB que divide o país desde a primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso. Ensaios nesse sentido já se deram com Marina Silva e Eduardo Campos. Num raciocínio de que Dilma poderia terminar seu mandato muito em baixa, vislumbrava-se a hipótese de uma alternativa. Ainda se vislumbra. Por aí, assanham-se muitos candidatos, à esquerda e à direita.
Após o impeachment, porém, vem se adicionando um ingrediente novo. Não foram poucos os que apostaram que o afastamento de Dilma demarcaria um estancamento da crise política. É algo um pouco na linha daquelas famosas conversas entre o ex-presidente da Transpetro Sergio Machado e o senador Romero Jucá (PMDB-RR): entrega-se a cabeça de Dilma, delimita-se a coisa no PT e a vida segue em frente. Mas não foi isso o que aconteceu. Michel Temer e alguns dos principais protagonistas de seu governo herdaram junto com o poder a crise de Dilma e os dedos acusatórios. A lista do procurador-geral Rodrigo Janot que o diga.
No meio dessa crise, Lula ensaia o seu retorno. Não mais o Lulinha Paz e Amor das suas campanhas presidenciais vitoriosas. Mas um Lula que passa a ideia de que vem disposto à briga, numa campanha agressiva, de enfrentamento. De troca de acusações. Até porque, nesse sentido, está todo mundo engolfado na mesma onda da Lava-Jato.
A multidão em Monteiro mostra as suas possibilidades concretas. Mas Lula poderá não conseguir disputar a eleição de 2018, no desdobramento das investigações contra ele. E, aí, precisa de um Plano B.
O perfil de paladinos do sertão dos Ferreira Gomes – Ciro e Cid – se adapta bem ao formato que vai se estabelecendo para a disputa de 2018. Se Lula não puder se candidatar, Ciro aparece com o perfil de sertanejo renitente (ainda que seja, na verdade, paulista de nascimento). Ciro pode vir a ser o candidato a vice de Lula, se ele puder disputar. Ou assumir a condição de protagonista. Até porque o PT a essa altura não teria um nome próprio para se contrapor a ele.
Pode até ser que, ao final, Ciro siga um caminho próprio. Mas, neste momento, esse é o acerto que vai se montando.