É bem possível – e talvez até provável – que tenha sido boa a intenção do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ao alertar que o governo Michel Temer hoje não teria votos para aprovar a reforma da Previdência e ao comentar que ele se encontra “enfraquecido” na iminência de uma nova denúncia contra ele feita pelo procurador geral da República, Rodrigo Janot. Ainda que possa ser apenas uma constatação honesta diante das dificuldades, as frases do presidente da Câmara têm também uma outra conotação: diante da nova dificuldade enfrentada por Temer, os parlamentares rodam a bandeira do taxímetro. Emprestar votos para questões polêmicas ou mais delicadas vai ficar mais caro.
A Bandeira 2 rodou para Temer garantir o arquivamento da primeira denúncia por corrupção passiva contra ele. E muito deputado ainda reclama não ter visto cumprido o compromisso firmado pelo governo. Há uma crise. O governo não tem recursos. As verbas são minguadas para atender às emendas parlamentares. Para entregar os cargos pedidos, etc.
Agora, Janot se despedirá do comando do Ministério Público apresentando nova denúncia. Ao que parece, mais detalhada, mais fundamentada, amparada pela delação do operador do PMDB, Lúcio Funaro. Talvez não tenha a prova cabal, irrefutável, do envolvimento de Temer. Mas trará mais elementos.
O provável destino da nova denúncia deverá ser o mesmo da primeira. Mas quem conhece o funcionamento do Congresso sabe que os parlamentares não perderiam a nova oportunidade de criar dificuldades para vender facilidades. E as dificuldades não precisam necessariamente estar somente na análise da denúncia de Janot. A reforma da Previdência é um tema polêmico. Aprová-la traz desgastes. E os parlamentares aproveitam para botar tais desgastes na conta.
Temer praticamente já nasceu como presidente sendo o que os americanos chamam de “pato manco” (lame duck). Seguirá capengando até outubro do ano que vem. A não ser que venha algo na linha do que sugere Helena Chagas. Capengar é sofrido…