Sejamos claros: a avaliação do governo Michel Temer, mostrada pela pesquisa do Ibope divulgada nesta sexta-feira (31) é ruim em toda parte. Mais da metade das pessoas (55%) reprova seu governo, o consideram ruim ou péssimo. É a pior média das quatro pesquisas feitas pelo instituto desde que Temer assumiu o poder após o impeachment de Dilma Rousseff. Mas o índice é bem pior na região Nordeste. Ali, o índice de reprovação de Temer bate os 67%. Depois que o ex-presidente Lula elegeu o sertão nordestino para dar a largada da corrida presidencial de 2018, vai se delineando o seguinte: a próxima disputa poderá repetir outra vez o confronto Norte/Sul.
Certamente movida pelo Bolsa Família e demais programas sociais, a evolução dos votos dos governos petistas no Norte e no Nordeste, especialmente, foi se acentuando a cada eleição. Em 2002, no segundo turno, Lula venceu em todos os estados, com exceção de Alagoas, onde a vitória foi de José Serra, do PSDB. Mas o estado onde Lula atingiu o maior percentual de votos foi o Rio de Janeiro. Ali, ele ficou com 78,97%. E o segundo maior percentual foi no Amapá: 75,51%. Entre os estados nordestinos, a maior vantagem foi no Ceará (71,78%) , certamente motivada pelo apoio de Ciro Gomes, que vencera ali a eleição no primeiro turno, como candidato do PPS, e no segundo apoiou Lula.
A eleição de 2006 já mostra o grande aumento da importância do Nordeste. Lula não obteve contra Geraldo Alckmin, do PSDB, vitória tão acachapante. O mapa já começa a se dividir entre Norte e Sul. Alckmin venceu as eleições em São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e em um estado do Norte: Roraima, onde, aliás, teve seu melhor desempenho proporcional, 61,49%. Como, porém, é um estado pequeno, em termos absolutos de voto, tal desempenho não significa muito. Já Lula consegue votações impressionantes no Norte e no Nordeste: 86,80% no Amazonas, 82,38% no Ceará, 84,63% no Maranhão, 78,48% em Pernambuco.
O quadro é muito parecido na primeira eleição de Dilma Rousseff. Seu adversário, José Serra, do PSDB, venceu em São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Espírito Santo, e em três estados do Norte: Roraima, Rondônia e Acre. De novo, em termos percentuais os melhores desempenhos do tucano vieram do Norte, de estados onde o número absoluto de votos não representa muito: 69,67% do Acre e 66,56% de Roraima. E os melhores resultados de Dilma meio que seguem o que já se dera antes com Lula: 80,57% no Amazonas, 77,35% no Ceará, 79,09% no Maranhão, 75,65% em Pernambuco.
Em 2014, a balada foi bem parecida, com vitória mais apertada de Dilma. Aécio Neves, do PSDB, venceu no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Espírito Santo, Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Acre e Roraima. Perdeu em seu estado, Minas Gerais. Mas, aí, os melhores desempenhos estaduais de Aécio já virão do Sul e Sudeste: Santa Catarina (64,59%) e São Paulo (64,31%). E Dilma será, inegavelmente, a campeã do Nordeste: 78,76% no Maranhão, 78,30% no Piauí, 76,75% no Ceará.
Embora a pesquisa do Ibope mostre uma insatisfação generalizada com o atual governo, ela mostra também que essa secessão não acabou. Onde Temer é melhor avaliado é na região Sul, onde sua rejeição é de 48%. Agrupadas na pesquisa, Norte e Centro-Oeste respondem por 49%. E o Sudeste por 52%. Não foi por acaso que Lula foi a Paraíba “entregar água” à população. Seu jogo é mesmo ali.