A resiliência do ex-presidente Lula, do PT, que cresce apesar da chuva de denúncias da Operação Lava-Jato contra ele, impressiona. O crescimento do ultradireitista Jair Bolsonaro (PP-RJ) assusta. A queda vertiginosa dos senadores Aécio Neves (PSDB-MG) e José Serra (PSDB-SP) e do governador de São Paulo Geraldo Alckmin deixa os tucanos com uma pulga atrás da orelha. Mas há um outro aspecto da pesquisa divulgada pelo Instituto Datafolha no domingo (30) que chama muito a atenção. Além dos movimentos dos pré-candidatos, o ponto comum da pesquisa é o seguinte: o campeão de preferência do eleitorado por enquanto chama-se “Ninguém”.
E vem sendo “Ninguém” desde as últimas eleições municipais. No primeiro turno das últimas eleições, não votar em ninguém foi a opção de quase dez milhões de eleitores apenas nas capitais. Em nada menos que dez capitais brasileiras, o número de pessoas que não escolheu nenhum dos candidatos a prefeito foi maior que o número de votos dados ao vencedor das eleições. Foi assim em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba…
Agora, pode-se falar de percepção semelhante quando se observam as altíssimas taxas de rejeição de praticamente todos os nomes lançados no tabuleiro da disputa. Se Lula lidera as pesquisas em todos os cenários, é preciso notar que o número de pessoas que declara não votar nele de jeito nenhum é maior que o daqueles que o escolhem como opção. Se ele oscila em torno de 30% dependendo dos cenários propostos, sua taxa de rejeição bate 45%. Só é menor que a do presidente Michel Temer, que não receberia em nenhuma hipótese os votos de 64%.
Aécio Neves, que agora aparece com apenas 8% das intenções de voto, tem uma taxa de rejeição semelhante à de Lula, de 44%. A de Alckmin é de 28%. Mesmo no caso de Bolsonaro, que bateu os 15% de preferência aparecendo em segundo lugar, o número de pessoas que não votariam nele de jeito nenhum é maior: 23%.
Até os tais nomes de fora da política aparecem com taxas de rejeição maiores que aquelas relativas a quem manifesta neles preferência. O apresentador de TV Luciano Huck não teria o voto de 23%. O juiz Sergio Moro tem uma taxa de rejeição de 16%.
É verdade que na regra das eleições brasileiras – onde só são computados os votos válidos – esse alto grau de rejeição e abstenção não compromete o resultado. Voltando às eleições municipais, o fato de a maioria não ter escolhido ninguém não afetou as vitórias daqueles que foram eleitos pelos demais. Essa ausência simplesmente sai da conta. O que não impede, porém, que ela seja notada. Como fenômeno que preocupa.
O grau de desilusão com a política tradicional pode ajudar o nascimento de aventureiros. Seja pela opção de quem começa a buscar algo novo, não contaminado, e, nessa busca se equivoca. O eleitor brasileiro já caiu nessa esparrela uma vez, quando elegeu Fernando Collor presidente. Seja também pela opção de muitos a simplesmente abandonar o processo. Nas duas hipóteses, são os aventureiros que agradecem…