Mais ou menos ao mesmo tempo em que o juiz Sergio Moro condenava o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a 9 anos e meio de prisão, a Executiva do PMDB se reunia e fechava questão em favor do presidente Michel Temer no caso da licença que a Câmara precisa conceder para que ele venha a ser processado no Supremo Tribunal Federal (STF) diante da acusação feita pelo Ministério Público de corrupção passiva.
Houve um tempo em que era recorrente entre os políticos o seguinte bordão: “Decisão da Justiça não se discute, cumpre-se”. Atualmente, o que mais se discute no mundo da política é decisão da Justiça. Dependendo de quem seja o envolvido, a decisão judicial ou é uma grande injustiça, um absurdo inominável, ou é a mais justa punição possível, urgente de aplicação. O grau de descrédito ou de indignação com o caso investigado ou denunciado varia conforme a filiação partidária.
Assim, os dois principais partidos do país trabalham com as armas que têm para se contrapor a ações que, grosso modo, vêm do mesmo grupo no Ministério Público, na Polícia Federal e no Judiciário. O PT movimenta a sua militância em favor de Lula. O PMDB movimenta a sua base política no Congresso.
Já se disse por aqui em outras ocasiões. Ingenuidade pensar que atingir um partido com as características do PT não provocaria reações. Trata-se da legenda com maior inserção social, com maior número de militantes ativos. Um partido surgido dessa própria capacidade de mobilização junto a sindicatos e outros grupos organizados da sociedade.
Já o PMDB organizou-se desde sempre para ser a legenda com maior robustez na representação política. Sempre elegeu grandes bancadas na Câmara e no Senado. Sempre elegeu número grande de prefeitos e governadores. Trata-se de um partido que optou por abrir mão de ser protagonista para ser o parceiro ideal de qualquer governo. É talvez o único caso no mundo em que o maior partido do país nunca tem candidato próprio à Presidência da República.
Assim, a arena do PT é nas ruas. A do PMDB é nos ambientes acarpetados do Congresso Nacional. No momento, os dois se movimentam para reagir ao curso das investigações e dos acontecimentos.
O problema é concluir se num caso ou em outro essas diversas capacidades dos dois maiores partidos representam de fato a vontade da maioria da sociedade brasileira. Aparentemente, a maioria da sociedade apoia o saneamento da atividade política brasileira. Ainda que possa haver exageros e desvios de motivação política em muitos momentos, esse saneamento parece o mote do que vem sendo feito pelo Ministério Público, Polícia Federal e Judiciário a partir da Lava-Jato em Curitiba.
Alguém em sã consciência acha que é pacífica na sociedade a ideia de que Lula é um injustiçado? Ou de que é inequivocamente um corrupto que precisa pagar por suas ações? E no caso de Temer? Qualquer dúvida com relação às questões acima pode ser dirimida na timeline de qualquer brasileiro no Facebook.
Fica claro que seja quem for que prevaleça nessas ações e reações ligadas aos resultados e consequências da Lava-Jato e seus desdobramentos, o confronto na sociedade será inevitável. E o episódio na terça-feira (11) do apagão no plenário do Senado antes da votação da reforma trabalhista é um forte primeiro ensaio disso.
Ainda faltam 15 meses para as eleições do ano que vem. Sobreviveremos até lá?