E agora, FH?

Ex-presidente FHC - Foto Orlando Brito

A proposta que agora faz o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ao presidente Michel Temer de antecipação das eleições chegou a ser sugerida como solução à ex-presidente Dilma Rousseff antes do impeachment. Já ali alguns vislumbravam que a simples deposição de Dilma não iria amainar a crise política. Como não amainou. Na ocasião, a solução acabou recusada pelo PT. Frente à sua enorme atração, é sempre difícil para quem exerce o poder enxergar o momento de abrir mão dele.

A solução da antecipação das eleições foi apresentada a Dilma entre a votação no Senado que aceitou o seu processo de impeachment e a sessão que propriamente cassou o seu mandato. Na primeira votação, que admitiu o processo de impeachment, votaram contra Dilma 55 senadores. Significou dizer que, ali, a possibilidade de cassação de Dilma tinha o mínimo do mínimo em termos de apoio dos senadores. Na votação do impeachment, o quórum mínimo necessário era de 54 votos. Ou seja: àquela altura, bastaria a Dilma conseguir virar dois votos que ela acabaria não tendo o seu mandato cassado.

Naquela primeira votação, alguns senadores chegaram a se manifestar no sentido de que votavam pela admissibilidade mas ainda não tinham convicção quanto ao cometimento do crime de responsabilidade. Queriam ver o processo aberto para tomar a decisão final diante dos argumentos que fossem colocados pela acusação e pela defesa. Casos, por exemplo, de Romário (PSB-RJ) e Cristovam Buarque (PPS-DF). A partir daí, começou-se a construir a ideia de garantir uma sobrevida a Dilma caso ela se comprometesse a convocar eleições antecipadas como solução. A própria Dilma chegou a ventilar essa hipótese. Ela mesma lançou ao partido a proposta de convocação de um plebiscito para a convocação de novas eleições caso retornasse ao governo.

Em junho de 2016, a bancada de senadores do PT chegou a considerar a hipótese de fechar com a proposta. A ideia não foi adiante, desautorizada pelo presidente do PT, Rui Falcão. O partido julgou que deveria manter como única palavra de ordem o “não ao golpe”. Qualquer proposta alternativa, que sugerisse alguma negociação em torno do mandato de Dilma foi rechaçada. Dilma foi para a votação do impeachment e ali se ampliou o número de votos contra ela. Votaram pela cassação do seu mandato 61 senadores. A concessão que prevaleceu foi a de manter seus direitos políticos.

Agora, Fernando Henrique volta com a ideia. Difícil saber se ela agora encontrará maior eco. A essa altura, Temer ainda tem mais convicção do que tinha Dilma de que tem condições de sair ileso do processo contra ele. É o próprio presidente o primeiro obstáculo. E provavelmente o ex-presidente não encontre muito apoio dentro do próprio PSDB que, no fim de semana, resolveu permanecer no governo. O ninho tucano é hoje a casa da perplexidade. O partido não sabe como agir diante das constrangedoras gravações dos diálogos recheados de palavrões de Aécio Neves e das imagens das malas recheadas de dinheiro carregadas pelo seu primo Fred. Fazer a autocrítica sugerida por Fernando Henrique significa não apenas entregar Temer, mas embrulhar no mesmo pacote Aécio. Não fazer a autocrítica significa correr o risco de descer pelo mesmo ralo se Temer não tiver capacidade de sobreviver ao bombardeio contra ele.

Fica o PSDB de Fernando Henrique um pouco como o “José” do poema de Carlos Drummond de Andrade, buscando uma saída onde talvez ela não haja. “Com a chave na mão/Quer abrir a porta/Não existe porta”. E agora?

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