Na entrevista que deu nesta sexta-feira (22) à Folha de S. Paulo, o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, afirma que foi a defesa desabrida do ex-deputado e hoje presidiário Eduardo Cunha o fator que lhe deu a projeção necessária para hoje ser ministro. Diz Marun que, não fossem as polêmicas em que se meteu, ele não estaria onde está. O que Marun não diz: sua opção em defender pessoas e interesses da sua corporação política em detrimento do que eventualmente pudesse a opinião pública pensar a respeito disso é o fator da sua projeção.
Estamos em um momento em que é contestada toda a classe política, e os expedientes que usa na relação com os seus financiadores. Expedientes que a maioria sempre julgou normais. Que a opinião pública rechaça. Que o Ministério Público e a Polícia Federal começaram a perseguir. E que a Justiça finalmente parece ter começado a julgar como intoleráveis (ainda que se perceba claramente da parte de alguns ministros do Supremo Tribunal Federal que não há consenso quanto a isso – ou, para alguns, que não há consenso quanto à implacabilidade apartidária quanto à punição desses expedientes). O resultado dessa associação entre os sentimentos da opinião pública, do Ministério Público, da Polícia Federal e de parte da Justiça é que políticos e empresários de diversos matizes começaram a ser presos. E a classe política, assim, se sente ela toda ameaçada.
Marun cresce meio que como um representante da classe ameaçada. Até pela coragem que teve de ter defendido justamente aquele que era o malvado favorito de nove entre dez brasileiros: Eduardo Cunha. Na cabeça da classe: se defende Cunha, defende todos nós. Na entrevista, ele se afirma “um apaixonado pela legalidade”, o que lhe faz se posicionar em questões polêmicas. “Muita gente tinha vontade de fazer aquilo e não tinha a determinação suficiente”.
São curiosas as voltas que o mundo dá. Ao se posicionar assim, Marun lembra muito o Roberto Jefferson do período do impeachment do ex-presidente Fernando Collor. Jefferson era o chamado “líder da tropa de choque” de defesa de Collor na ocasião. Tropa de choque que foi minguando à medida que ficava evidente que o impeachment aconteceria. Um episódio tornou-se um clássico disso. Um deputado da época, que se chamava Onaireves (Severiano ao contrário) Moura fez um jantar na sua casa em defesa de Collor. Alguns dias depois do jantar, houve a votação do acolhimento do pedido de impeachment pela Câmara. E diversos dos parlamentares que compareceram ao jantar votaram contra Collor. Inclusive o próprio Onaireves.
Roberto Jefferson manteve a defesa de Collor, caracterizando-se justamente na época por ser alguém sem medo de se meter em polêmicas. O curioso disso tudo é que alguns mais tarde, com vários quilos a menos depois de uma cirurgia de redução do estômago, o mesmo Roberto Jefferson tenha sido o pivô inicial do escândalo do mensalão, denunciando a sua existência à jornalista Renata Lo Prette, então repórter da Folha de S. Paulo. O mensalão é o marco inicial da mudança no entendimento da Justiça, que hoje leva tantos políticos e empresários à cadeia.
Uma mudança que desagrada a muitos na classe política. De diversos partidos e matizes. E eis aí Marun no seu papel de defender essa classe…