Percebe-se dentro do próprio Poder Judiciário uma certa estupefação quanto ao tamanho em que chegou a Operação Lava-Jato e os outros fatos correlatos que envolvem a classe política como um todo. É como se os juízes começassem a se dar conta do tamanho do rolo em que o país se meteu diante da disposição de saneamento das práticas dos governos e partidos. Disposição que, a essa altura, não parece mais ter chance de ser parada. O carro foi posto em movimento, pelo menos, a partir do julgamento do mensalão. Nosso problema, agora, é saber, onde ele vai parar.
Pela decisão tomada pelo ministro Edson Fachin, a partir da lista feita pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, serão investigados nada menos que 83 políticos. São nove ministros do atual governo Michel Temer. Nada menos que um terço dos senadores, 29 senadores, a mesma fatia que se renova em uma eleição (na eleição seguinte, quatro anos depois, renovam-se dois terços). Quarenta e dois deputados federais. Entre esses, os presidentes do Senado e da Câmara. Três governadores. Uma prefeita, ex-governadora. Um ministro do Tribunal de Contas da União. Vinte e quatro outros políticos. De um espectro partidário que contém PMDB, PSDB, PT, PSD, PPS, PRB, DEM, PCdoB, PTC, SD, PR, PP, PTB… Ou seja, praticamente todo mundo.
O que vem acontecendo no país desde, pelo menos, o julgamento do mensalão? A partir dali, estabeleceu-se um novo padrão bem menos tolerante com os desvios e irregularidades que a política foi estabelecendo na relação entre financiadores e financiados desde o restabelecimento da nossa democracia com o fim da ditadura militar há 32 anos. Expedientes que foram se consolidando desde a primeira eleição direta – a de Fernando Collor – que inicialmente eram tolerados – e que até contribuíram para que Collor fosse absolvido na Justiça – deixaram de ser.
Já escrevemos isso por aqui. Situações que foram toleradas no julgamento de Collor já não foram toleradas no mensalão. E, do mensalão para cá, outras tantas também deixaram de ser toleradas.
O problema que fica é saber como será o desfecho de tudo isso. O que também aconteceu desde o mensalão é que a classe política, de um modo geral, em vez de corrigir os maus hábitos que ali foram condenados, passou a buscar formas mais sofisticadas de continuar mantendo relações promíscuas com os seus financiadores. Até chegarmos a esse bilionário, generalizado, suprapartidário processo de pagamento de propina que a Lava-Jato relata e que faz Fachin tornar investigados nada menos que 83 políticos brasileiros.
Claro, a abertura de inquérito não torna ninguém culpado. É o início de um processo de investigação. Mas seria ingenuidade, a essa altura, imaginar que dali todos vão escapar. O mais provável é que, ao contrário, a maioria não escape. E, aí, o que veremos será a implosão das cúpulas dos principais partidos políticos brasileiros atuais. A cúpula do PT em grande parte já se viu implodida. A do PMDB é a maior vítima dessa nova lista. Mas ali estão também os dois últimos candidatos à Presidência da República do PSDB, José Serra e Aécio Neves. E outros nomes de vulto.
Não dá mais para parar. Para onde, então, iremos? E agora, Judiciário?