Desde que a operação Lava Jato foi deflagrada, com ampla cobertura da mídia, o PT adotou o discurso de que se tratava de uma investigação direcionada e que tinha Lula como alvo. Militantes petistas abraçaram esse discurso. Parcela da opinião pública foi seduzida por ele.
Mas o que não se sabia, até ontem, é que Temer e Aécio também acreditaram que Lula era o único alvo. E que, ambos, podiam fazer o que quisessem pelos cantos. Acreditavam que estavam imunes ou que a PF e o MP estavam entretidos demais para acompanhar suas travessuras.
Na noite de sete de março, na comemoração dos 50 anos de jornalismo de Ricardo Noblat, o deputado Miro Teixeira (Partido Verde-RJ) sentenciou sobre os que perguntavam — onde isso vai parar?: “Eles querem saber se chegará neles”.
A afirmação de Miro foi feita depois de relato de pergunta feita, num shopping de Brasília, pelo ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira: “Onde isso vai parar?” No caso de Ferreira, ele acabou preso na Operação Custo Brasil e é um dos réus da Lava Jato.
A luz dos novos fatos a pergunta pode ser interpretada como um sinônimo do discurso do atual governo e dos seus: “A Lava Jato precisa ter um prazo para terminar”. Argumentavam que isso seria bom para o país e para sua economia. Bom, o que dizer disso agora? Sem falar na decisão, de manter em seus cargos, os ministros envolvidos na Lava Jato.
Mas o mundo não caiu nem a terra tremeu. O que caiu foi o discurso do bloco político que comanda o país. Como já ocorreu com o governo Dilma, o que está tremendo é o governo Temer. Ou do ex-presidente, como disseram, num ato falho, jornalistas de televisão.
Chega a ser bizarro o que aconteceu. Os donos da J&F estão mergulhados na Lava Jato, investigados pelo Polícia Federal e o Ministério Público há anos. Mesmo assim, o presidente da República e o presidente do PSDB, senador Aécio Neves, se sentiram liberados e abriram o coração. Mata? Controla o Eduardo Cunha?
Os empresários Joesley e Wesley Batista criaram as condições para que se fizesse um serviço completo. Gravação de áudios! Filmagens de cenas flagrantes! Um primo do senador tucano recebeu valises de dinheiro. O jovem deputado Rocha Loures, copa e cozinha de Temer, recebeu frasqueras de grana.
Os fatos ampliaram o ambiente de incerteza. Ele não se resume mais à indagação se Lula poderá ou não ser preso? Ou se as reformas seriam ou não aprovadas? Quem mais poderia ser preso? O Congresso vai aprovar as reformas da previdência e trabalhista enviadas pelo governo? Temer conseguirá entrar para a história como o presidente das reformas?
O Bloco PSDB-PMDB conseguirá ter um candidato orgânico? Ou apostará num outsider? Como fez a UDN com Jânio Quadros. O TSE cassará a chapa Dilma-Temer ou vai deixar para lá. Michel Temer continua em campo ou vai para o chuveiro?
A opinião pública aceitaria que o Congresso elegesse um presidente? Políticos que fazem tricô com Temer seriam aceitos no comando do país? Haveria força e disposição política para antecipar a eleição presidencial? Se isso ocorrer, ela será solteira? Como a que elegeu Collor. O mercado, e seus porta vozes, vai manter seu aval e sua aposta nesse governo.
O que se sabe é que Temer, o PMDB e o PSDB não têm músculos para segurar a onda. A única certeza possível é a de que Temer não abrirá mão do cargo, pois isso seria uma confissão de culpa. Mesmo que travestido com o discurso de que se está pensando no país. Por isso, os governistas devem remar: “Se a canoa não virar, / Olê, olê, olê, olá / Eu chego lá…” Onde?