Placar final do tolo Fla x Flu político: perdemos todos

Presidente Michel Temer.

Depois da prisão da irmã de Aécio Neves (PSDB-MG), Andrea Neves, e da determinação do afastamento de Aécio do cargo de senador, o que mais será preciso para que muitos entendam como foi equivocada a leitura que nos últimos anos fizeram do que estava se passando no Brasil? Depois da divulgação do flagrante do presidente da República sugerindo que se devia manter o pagamento de uma mesada para garantir o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha, que ficha ainda precisa cair para desfazer o discurso de que a investigação é seletiva e visa apenas prejudicar um determinado partido e grupo político? Depois da divulgação das fotos do deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) pegando uma mala com R$ 500 mil num restaurante de um shopping, depois de ter sido indicado para isso pelo próprio presidente, não terá chegado o momento do apito final do tolo FlaXFlu político instalado no país?

A verdade é que não é de hoje a contestação à forma como financiados e financiadores relacionam-se na política brasileira. Ao longo das últimas três décadas, não foram poucos os avisos dados à classe política de que precisavam modificar seu comportamento. E esses avisos foram ignorados. O eleitor tratou de fazer tentativas de mudar os grupos políticos no poder na esperança de que os hábitos mudassem. Os novos grupos políticos continuaram mantendo os mesmos maus hábitos. Parece ter chegado o momento em que seguir negando o caráter suprapartidário da roubalheira institucionalizada na política brasileira será sinal ou de tremendo cinismo ou de suprema ingenuidade.

Já no governo José Sarney, essas práticas eram o alvo da CPI da Corrupção. No governo Fernando Collor, elas levaram ao seu impeachment. Mesmo no governo Itamar Franco, exceção de maior seriedade, foram investigadas na CPI do Orçamento, especialmente no momento em que ela chegou a planilhas de propina pagas por empreiteiras (planilhas que levaram à época o então senador Pedro Simon a propor uma CPI dos Corruptores, nunca levada adiante). No governo Fernando Henrique Cardoso, foi o cerne de escândalos como o da compra de votos, dos precatórios do DNER, das denúncias no processo de privatização.

Chega-se ao governo Luiz Inácio Lula da Silva e ao mensalão. No julgamento da Ação Penal 470, todos os ministros do Supremo Tribunal Federal – todos, sem exceção – julgaram que houve a prática de crime no que se batizou de mensalão. Essa foi a posição de todos – a discussão que se deu foi sobre o tamanho das penas e sobre alguns determinados tipos de delito para um e outro acusado. Desde a primeira lista do procurador Rodrigo Janot, no começo do segundo governo Dilma Rousseff, os nomes investigados pertencem a todos os partidos políticos.

É impressionante que ninguém tenha percebido o quanto foi conveniente para os acusados o comportamento de torcida de boa parte das pessoas. O quanto foi conveniente um comportamento que era implacável contra os inimigos e totalmente condescendente com os aliados. Como as pessoas não percebiam que, diante das mesmas fontes – as notícias publicadas pelos mesmos meios de comunicação a partir de informações vazadas pelos investigadores – ora era dado total crédito e aplauso, ora se criticava e se acusava de perseguição política, dependendo da filiação política do acusado?

Enquanto se ficou nesse tolo comportamento de torcida, nenhuma tentativa de solução para a crise que se abate no país foi construída. Que tolice imaginar que apenas apear Dilma e o PT do poder e entregar àqueles que eram antigos aliados e parceiros nos mesmos esquemas de irregularidade iria resolver! Como ninguém se deu conta de que o vaticínio do senador Romero Jucá (PMDB-RR) na conversa com o ex-presidente da Transpetro Sergio Machado, de que bastava entregar a cabeça de Dilma que o processo se estancaria, acabara de ser derrubado com a própria divulgação da conversa? Que nada estava estancado a partir do momento em que o próprio Sergio Machado resolvia fazer um acordo de delação premiada para salvar a sua pele?

Para quem não sabe, a irmã de Aécio Neves, Andréa, é uma das figuras mais poderosas do PSDB de Minas Gerais. Sempre foi ela a cabeça pensante, atuando nos bastidores, das ações de Aécio e seu grupo. E ela está presa. E Aécio afastado do Senado. O rastreamento da propina que foi parar na conta do senador Zezé Perrela (PSDB-MG) é um dos momentos de maior sofisticação da operação. O que fazer com os seguidos memes que diziam que os tucanos não eram alcançados pela Operação Lava-Jato? Não terá chegado a hora de rever o discurso?

Para este colunista, a manutenção do desgaste político e a ampliação do alcance da Lava-Jato além dos limites do PT e seu grupo político já parecia algo totalmente previsível. Não espanta. O que espanta é quanto tempo ainda gastaremos na tola pendenga política que adia uma saída para este nosso triste país…

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