Jair Bolsonaro exala os odores de uma necrópole pestilenta, soterrada por sua pulsão de morte. O extermínio está na condução genocida na pandemia, na idolatria a torturadores sanguinários, na agenda armamentista, no discurso belicista, na apologia do ódio, na encenação de rituais mortuários, na promiscuidade com as milícias e na fúria assassina de sua base apodrecida. Assombram os umbrais desse submundo tumular duas urnas: a eletrônica e a fúnebre. A morte política os ronda criando uma atmosfera moribunda que se deteriora rapidamente e vai estreitando o caminho fatal entre as duas urnas. Muitos daqueles que entoam o epitáfio bolsonarista estão marcados para morrer politicamente, a partir de outubro. Ainda que alguns conquistem mandatos, os poucos sobreviventes estarão isolados e condenados a errar como mortos-vivos na superfície civilizatória. A democracia está sendo reanimada pela sociedade civil e diversas entidades, milhares de brasileiros, anônimos ou não, subscrevem manifestos pela vida, pelas liberdades e pela verdade. Os sucessivos disparos para necrosar a democracia deixaram sequelas, mas falharam no intento de sepultar o Estado Democrático. Os sicários e seus métodos fascistas serão encovados pela maioria dos eleitores, aqueles que desejavam assassinar junto com a democracia.
No único pleito que enfrentou depois de eleito – o municipal de 2020 – Bolsonaro condenou muitos à morte política e abandonou uma procissão de feridos graves pelo percurso. Naquela eleição todos os 70 zumbis que usaram a logomarca Bolsonaro em busca da sobrevida em mandatos públicos pereceram miseravelmente, inclusive a fantasmagórica Wal do Bolsonaro (do Açaí), candidata a vereadora em Angra dos Reis, e Rogéria Bolsonaro, derrotada no Rio de Janeiro. Também foram cremados muitos daqueles que invocaram o decrépito marketing da ordem, da justiça e da moralidade, camuflados em patentes militares, um sem-número de major, cabo, delegado, capitão etc. Em 2020 Bolsonaro testou, ao limite, o delírio absolutista de escaveirar a democracia. Apadrinhou nomes medíocres, figuras esquálidas, sem expressão, atuações ou experiências mínimas para mandatos que chacinavam a inteligência dos eleitores. Foram todos incinerados nas urnas, as eletrônicas. As cinzas foram depositadas nas urnas mortuárias da política e nenhum Lázaro reviveu.
No pleito municipal a caveira do cercadinho não conseguiu transferir votos para a fantasma protegida do açaí e fracassou com muitos outros espectros eleitorais. Rogéria Bolsonaro foi amaldiçoada pela praga do sobrenome. A genitora das 3 primeiras crias do mausoléu bolsonarista, os numerais 01, 02 e 03, não foi bem na contabilidade das urnas. É mais viva na matemática para aquisição de imóveis com dinheiro em espécie. Teve anêmicos 2.034 votos e ficou na rabeira do cortejo fúnebre. Apesar do sobrenome, o desenlace eleitoral foi sacramentado até nas catacumbas da milícia carioca, a cova infecta do bolsonarismo. Carlos Bolsonaro, único com esse sobrenome a conquistar um mandato, beliscou a reeleição, mas desidratou severamente. Perdeu 34% dos eleitores entre 2016/2020 e passou a faixa de campeão de votos de vereador no Rio de Janeiro para Tarcísio Motta, do PSOL, da esquerda que eles querem fuzilar, metralhar e matar, como Marielle Franco, covardemente tocaiada pela milícia carioca.
Pessoalmente, o capitão Jair Bolsonaro agonizou em derrotas asfixiantes em 2020. Entre os nomes que apoiou estavam candidatos a prefeito em 5 capitais e 45 pretendentes a vereador. Foram eleitos apenas 9 vereadores, menos de 20% dos apoiados por ele. Os postulantes a grandes prefeituras foram aniquilados. Apenas dois avançaram ao segundo turno e perderam. Os demais receberam a extrema-unção logo no primeiro turno. Em Fortaleza o então aliado de Bolsonaro se viu obrigado a se descolar do padrinho do dedo podre para escapar da maldição. O capitão Wagner repele novamente Bolsonaro, agora na disputa pelo governo do Ceará. No Rio de Janeiro, Marcelo Crivella se tornou um dos cadáveres mais emblemáticos do sepulcro bolsonarista. Os outros ataúdes dos fiascos políticos de Bolsonaro foram empilhados em São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Manaus. Celso Russomano colou a campanha em Bolsonaro e a estratégia foi mortífera. Amargou uma humilhante quarta colocação com pouco mais de 10% dos votos. Desencarnou ao somar sua rejeição com a imagem letal do capitão. Em Belo Horizonte, o escalado de Bolsonaro para morrer, Bruno Engler, foi enterrado por Alexandre Kalil. Em Manaus, o coronel Alfredo Menezes obteve desbotados 11% dos votos. Outra vítima da maldição foi em Recife. Após receber o bafejo de morte de Bolsonaro, a delegada Patrícia definhou, caiu nas pesquisas e acabou em quarto lugar. As 5 capitais, incluindo o Rio, totalizavam 18 milhões de eleitores. Os bolsonaristas somaram pálidos 1,5 milhão de votos. Um cemitério eleitoral com menos de 10% dos votantes.
As pesquisas eleitorais vaticinam uma nova mortandade entre a legião bolsonarista nas urnas, eleitorais, em 2022. A começar por ele próprio que, indicam as sondagens, pode enfrentar o inédito enterro eleitoral sem reeleição, o primeiro na história brasileira. A média numérica das pesquisas (perto de 150) no último ano registra uma estável liderança do candidato petista que renasceu após a adaga desonesta e traiçoeira da Lava Jato. Os institutos de maior credibilidade voltaram a apontar a definição em 1 turno, antecipando a missa de corpo presente para início de outubro. Os gritos de pânico são estridentes e cada vez mais assombrosos. Bolsonaro se reconhece em estado terminal, se recusa a morrer e tenta ressuscitar algumas almas penadas através de carpideiras golpistas. Arrasta para o esquife da ruptura alguns vermes parasitários das Forças Armadas, que passa por um processo de acentuada de putrefação. Até a chancelaria brasileira, outrora respeitada, está em luto fechado desde a hecatombe Ernesto Araújo. Bolsonaro investiu no suicídio ao convidar o corpo diplomático para deslegitimar o processo eleitoral brasileiro mentindo sobre a segurança da urna eletrônica. Depois desse tiro de misericórdia, baixou o clima de velório na campanha. O “DataFolha”, entre maio e julho/2022 registrou o amento da confiança na urna eletrônica de 73% para 79% após as desqualificações do golpista. As urnas eletrônicas, agora ditas inconfiáveis, já renderam 76 anos de mandatos aos moradores do sarcófago dos Bolsonaro. O choro do derrotado, nos estertores, é indisfarçável e só engrossa o prontuário da causa mortis do capitão.
Bolsonaro corre o risco de se tornar, muito em breve, um repulsivo defunto político malcheiroso em razão do golpismo de eunuco, da mentira deslavada, da ruína econômica e da morte anunciada. Em vários estados, notadamente no Nordeste e no Norte, onde sua rejeição é sepulcral, muitos candidatos vinculados ao capitão escondem o nome dele sob sete palmos em suas peças de campanha e discursos a fim de desviar do abraço da morte, dado o predomínio dos votos pró-Lula. Há um crescente processo de “cristianização”, que na política equivale a um atestado de óbito antecipado. A traição mata e o embalsamento se aproxima. Raros candidatos nos estados, particularmente no Sul, deverão persistir no alinhamento de suas estratégias com a imagem moribunda de Bolsonaro. Isso deve ocorrer no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Bolsonaro, teoricamente, tem palanques montados em 21 estados. Até aqui, 10 candidatos que vinculam suas campanhas a ele são competitivos. A grande maioria (8) é de candidatos à reeleição com um grau menor de dependência do Planalto e podem recusar o cadafalso político. A qualquer tempo, o alinhamento pode ser reavaliado se a noiva-cadáver comprometer a sobrevivência política dos aliados nos estados e indicar uma missão de sétimo dia antecipada. Quando isso acontece todo mundo larga a alça do caixão.
Além do que já ocorre no Nordeste, o risco maior de abandono, a fim de fugir da avaliação negativa de Bolsonaro, está em colégios de maior densidade eleitoral, como Minas Gerais e Rio de Janeiro, onde a rejeição de Bolsonaro é fatal. A situação de Romeu Zema em Minas Gerais, onde Bolsonaro é desaprovado por 48%, não é estável, já que o apoio de Lula a Alexandre Kalil altera o quadro sucessório em favor do prefeito da capital. No Rio de Janeiro a reprovação de Bolsonaro é de 52%. De olho nesse presságio funesto, o aliado Cláudio Castro, do mesmo PL de Bolsonaro, viu pesquisas recentes registrarem um empate técnico com Marcelo Freixo e já puxou o coro do réquiem bolsonarista: “Não quero nacionalizar a eleição estadual”. O último DataFolha mostrou o inventariante de Wilson Witzel com apenas 1% de vantagem sobre Freixo e a curva das pesquisas indicam chances de virada. Na Bahia, onde Bolsonaro é repelido por 79% da população, o governo tem um agonizante na disputa. Diante da anemia do ex-ministro João Roma, o Palácio já acende velas para ACM Neto que bateu o derradeiro prego no caixão. Quer Bolsonaro desencarnando fora dos terreiros baianos. No Maranhão, o candidato do PDT tem o apoio do PL de Bolsonaro, um candidato ao senado que apoia Bolsonaro, mas não quer arrastar cadáveres federais na campanha.
Em São Paulo as chances bolsonaristas ao governo são praticamente natimortas. O ex-ministro Tarcísio Gomes de Freitas faz campanha com o carimbo de candidato oficial de Bolsonaro e está com um pé na cova. Em entrevista declarou alinhamento total com o ex-chefe e afirmou também esperar a “transferência de votos” dos paulistas que apoiam Bolsonaro, só que eles são rarefeitos. A rejeição de Bolsonaro em São Paulo é de 59%, de acordo com o último DataFolha. Tarcísio, que no primeiro debate exibiu uma agressividade bolsonarista, corre o risco de se transformar em um esqueleto eleitoral. Lula lidera em SP com 43% das intenções de votos contra 30% do capitão. A palidez do bolsonarismo na disputa pelo Executivo de São Paulo se repete em outros estados, onde os exumados do governo Bolsonaro vão sendo abandonados, como nos emblemáticos casos de Janaína Paschoal e da ministra Damares Alves, enterradas vivas, como indigentes, por Bolsonaro em São Paulo e Brasília. O mesmo aconteceu com João Roma na Bahia. Outros aliados combalidos também serão sacrificados no patíbulo eleitoral. “Bolsonaro é um homem honrado, mas não recolhe seus feridos. Sequer demonstra solidariedade com seus combatentes”, constatou o presidiário Roberto Jefferson, candidato a presidir o Brasil pelo PTB de dentro da cadeia.
Em Alagoas está o maior fiasco da federalização da eleição presidencial, opondo eleitores de Lula e aliados de Bolsonaro. Lá também se encontra a lápide mais mórbida da disputa de 2022, já que envolve uma morte real, uma chacina covarde. O féretro alagoano do bolsonarismo, organizado por Arthur Lira e bancado pelo orçamento secreto e graves suspeitas de corrupção, tem o senador Rodrigo Cunha como candidato-enfermo pelo União Brasil ao governo do estado. Ele enterrou o PSDB para montar um dos palanques do capitão na terra os marechais. Está na rabeira. O pai e mãe dele, a ex-deputada Ceci Cunha, foram assassinados por um pistoleiro profissional contratado pelo primeiro suplente da coligação, o ex-deputado Talvane Albuquerque. O jagunço-deputado foi condenado a 103 anos de cadeia como mandante da morte da ex-deputada e mais três parentes. O crime ficou conhecido como Chacina da Gruta, em referência ao bairro onde a deputada residia, em Maceió. Ceci Cunha foi chacinada na varanda de sua casa, com o marido e familiares, na mesma noite em que foi diplomada deputada federal, em 1998.
Talvane Albuquerque, a exemplo de Brilhante Ustra e outros facínoras, contou com o indefectível advogado dos matadores e defensor de todas as cepas de pistoleiros e bandoleiros. Jair Bolsonaro foi único a defender o deputado facínora na sessão de 7 de abril de 1999 na Câmara dos Deputados: “Sr. Presidente, em toda minha vida parlamentar não conversei por mais de dez segundos com o Deputado Talvane Albuquerque. Não tenho absolutamente nenhum contato, nenhum grau de amizade com S.Exa, mas fico com a minha consciência pesarosa de votar pela cassação desse Parlamentar, porque amanhã qualquer um de nós pode estar no lugar dele”, disse Bolsonaro para acrescentar com despudor vulgar: “Mas quem aqui nunca teve contato ou conversou com um marginal?… Mais grave do que conversar com marginal é conversar com marginal de colarinho branco!”. Sabe-se hoje que o protetor de Talvane Albuquerque convive com muitos marginais e com várias castas de delinquentes e homicidas, como Ronnie Lessa, Adriano da Nobrega, Jorge Guaranho, Guilherme de Pádua, Jairinho, Flordelis e tantos outros. A defesa obscena de Bolsonaro não livrou o assassino Talvane Albuquerque da cassação, apenas 3 meses depois da elucidação do crime.
O mascate da morte sempre sacrifica os seus. São muitos os órfãos feridos no cortejo bolsonarista. Allan dos Santos, Zé Trovão, Sarah Geromini, Francisco Rodrigues, Ricardo Vélez, Abraham Weintraub, Milton Ribeiro, Santos Cruz, Floriano Peixoto, Osmar Terra, Gustavo Canuto, Luiz Henrique Mandetta, Sergio Moro, Nelson Teich, Marcelo Álvaro Antônio e Jorge Oliveira, Eduardo Pazuello, Ernesto Araújo, Ricardo Salles, Joyce Hasselmann, Alexandre Frota, delegado Waldir entre tantos outros tombados pela ingratidão. Alguns tentarão a ressurreição nas urnas, poucos têm chances. Morreram de fato Gustavo Bebbiano, Adriano da Nóbrega, Marcelo Arruda, o jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Araújo Pereira. Mais de 680 mil brasileiros sucumbiram em virtude do obscurantismo genocida diante da Covid-19 e outros tantos morrem diariamente pela banalização do acesso às armas de fogo. Depois da incúria diante da pandemia, um dos piores resultados do mundo, Bolsonaro excretou: “Não sou coveiro”. Foi sua maior mentira. É o maior coveiro do vasto e doloroso cemitério chamado Brasil. Todo mundo morre um dia, inclusive o coveiro que cavou sua própria sepultura com as mãos encharcadas do sangue da morte de inocentes. Voltará a ser pó e o dia de finados para Bolsonaro pode ser antecipado em 1 mês.
– Weiller Diniz é jornalista