A escolha de Jair Bolsonaro para síndico do quiosque, com 39% dos condôminos na segunda convocação da assembleia eleitoral, é o resultado das marteladas dos engenheiros da mentira e das pranchetas dos arquitetos da fraude: ética, processual, jurídica, moral, humanitária, política e institucional. Após o habite-se presidencial, forjado por um juiz parcial e incompetente, ergueu-se o canteiro da demolição generalizada, cercado pelos tapumes da baixíssima cognição, da estupidez, da indigência, do preconceito, do ódio, da mentira, da intolerância e da perversão. É entulho para todos os lados.
Abertas as persianas do puxadinho bolsonarista, iluminados os principais peões do cercadinho, antes protegidos pelas sombras e pelo anonimato, descortinou-se um barracão de salteadores, golpistas, assassinos, nazistas e outros malfeitores. Capatazes incapazes que se revezam na exposição vexatória da casa grande da infâmia. Os tijolos do barro impuro que ergueram essa tapera fétida vão sendo cozidos, um a um, na olaria da vergonha.
Em uma recente construção irregular, um dos mestres-de-obras e deputado de uma convenção sectária foi flagrado reproduzindo uma maquete do 3 Reich, escorando a defesa da criação de partidos nazistas no Brasil. Dois outros zeladores do mesmo canteiro usaram taxas de simpatizantes e o elevador social e se deslocaram à Ucrânia, em ruínas pela guerra de anexação russa. A casa caiu para um deles ao ter um áudio, manchado por tintas sexistas, vazado por vizinhos do zap: “Ucranianas são fáceis, porque são pobres”, disse o deputado estadual, Arthur do Val (SP), que também atende por um falacioso heterônimo maternal.
Nada difere do machismo de Bolsonaro à deputada Maria do Rosário em 2014 – pelo qual foi condenado – e da defesa do turismo sexual em 2019. Arthur do Val foi arrimado pelo porteiro do mesmo acampamento, Renan Santos. O MBL foi pedra fundamental para a implosão do Brasil. Apoiou Bolsonaro e hoje tentar conter os escombros presidenciais de Sérgio Moro, engenheiro original do caos.
Sérgio Moro sente o desconforto de ser inquilino do MBL. O ex-juiz Moro fez um pronunciamento ao lado do deputado Kim Kataguiri para contar da fortuna de mais de R$ 3,6 milhões que amealhou na alcova dos corruptores da Lava jato, elogiou a missão da dupla do MBL à Ucrânia e está desabando para os andares inferiores no andaime sucessório. A falta de competitividade pode despejá-lo da pretensão presidencial em breve. Alicerçado por compartimentos do MP, Moro é o projetista e idealizador da planta autoritária do Bolsonarismo.
Depois de conceder fraudulentamente o alvará para o fascismo, interditando o rooftop de 2018 por uma cobertura inexistente no Guarujá, topou ser encarregado da obra bolsonarista na Justiça com promessa de mudar de endereço para o STF. Entrou pelo cano duplamente. Levou uma denúncia vazia do capitão e o STF reformou as obras podres do estelionato jurídico ao sentenciá-lo como incompetente e faccioso.
Moro e o MBL não são os únicos, nem os primeiros, nem os últimos embusteiros do projeto de demolição do Estado brasileiro. Recendem apenas a fedentina mais recente da explosão dos bueiros de Bolsonaro, que interligou todos os encanamentos das fossas sépticas brasileiras, as mais malcheirosas da história. Um lixão da marginalidade, do escárnio e da ignorância. Os malfeitores o rodeiam, os infames o exaltam, os degenerados o louvam, os vis o bajulam, os delinquentes o circundam, os salteadores o protegem, os assassinos o seguem, os fascistas o servem e os golpistas o celebram. Toda horda de facínoras encontra acolhida no valhacouto bolsonarista. Espalham mortes agônicas, a ruína civilizatória, escombros econômicos, a escuridão social, a devassidão moral, a incapacidade intelectual, a lassidão espiritual, a indiferença cultural e o retardamento mental.
Entre os assaltantes albergados no condomínio estão dois célebres hóspedes dos presídios: Valdemar Costa Neto e Roberto Jefferson. Costa Neto é um operário do crime e preside o PL, onde Bolsonaro se alojou em novembro de 2021. O “boy”, como é conhecido na suíte sênior da delinquência, foi sentenciado em dezembro de 2013 a sete anos e 10 meses por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no mensalão. Depois de pernoitar durante um ano no xilindró, passou para prisão domiciliar. Visitante contumaz das celas, Roberto Jefferson tentou balançar as vigas de sustentação da democracia para abrir portas com Bolsonaro. Foi para o xilindró pela segunda vez. Pela gatunagem nos cômodos escuros do mensalão pousou na cadeia pela primeira vez em 2014, mas ficou muito pouco tempo trancafiado, menos de 1 ano e meio dos mais de 7 anos da sentença. Retornou à carceragem após as pichações golpistas nos muros do STF: “Organização Criminosa é o Supremo. Orcrim. Uma organização de crime contra a Constituição, contra a dignidade humana”, vociferou. Pregou abertamente um golpe contra os ministros do STF: “aposenta dez ministros do Supremo, menos o Kassio, (…). Mas pega aqueles dez satanases… as duas bruxas e os oito satanases, você aposenta, manda pra casa.”
Outro inquilino dos presídios é o deputado bolsonarista Daniel Silveira, preso duas vezes. A primeira por rabiscar ataques contra ministros do STF, em fevereiro de 2021. A segunda por quebrar as regras do uso da tornozeleira eletrônica por cerca de 30 vezes. A determinação foi de Alexandre de Moraes, do STF, a pedido da Procuradoria-Geral da República. Ao decidir, o ministro citou o “total desprezo pela Justiça”. O deputado Silveira foi preso em fevereiro de 2021 em razão de um vídeo estilhaçando as vidraças democráticas e fazendo apologia ao AI-5, o mais sanguinário ato institucional da repressão militar. Ele também propôs a destituição de ministros do Supremo Tribunal Federal, entre eles Edson Fachin. A prisão foi ratificada pela unanimidade do STF e cimentada pela Câmara dos Deputados. O ogro das redes sociais, assim como Jefferson, depois de preso se converteu em compungido. Já em casa voltou a debochar do País, exibindo a placa quebrada com o nome de Marielle Franco, vereadora chacinada pela milícia carioca.
Operário extremista, servente do golpe, do fechamento dos Poderes, da intervenção das Forças Armadas e, igualmente desqualificado, é Allan dos Santos, um reles obreiro reverenciado na lixeira bolsonarista. Quando a casa ruía e reboco de proteção esfarinhava, escafedeu-se para os Estados Unidos em busca de um abrigo. O ministro Alexandre de Moraes determinou sua prisão preventiva e extradição, sustentando que Allan dos Santos deve ser preso pela prática de seis crimes: promover, financiar e participar de organização criminosa, calúnia, injúria e difamação, lavagem de dinheiro e incitação ao crime. Os porões do terror no canal do YouTube foram fechados e a Justiça determinou o trancamento de todas as maçanetas sociais vinculadas ao blogueiro e suas contas bancárias. Também foram proibidos os repasses de dinheiro das plataformas para os canais e contas, a chamada monetização.
A casa também caiu para outro que defendia destelhar a democracia, um tal Zé Trovão. Um capanga anônimo, sequestrado da insignificância às vésperas das fechaduras golpistas do 7 de setembro. O caminhoneiro Marcos Antônio Pereira Gomes foi um dos principais encanadores envolvidos nas empreitadas antidemocráticas do Dia da Independência. Bravateiro, ele pontificou paralisações e invasões ao STF e ao Congresso Nacional. Zé Trovão também apareceu ao lado do cantor Sérgio Reis e parlamentares apoiadores de Jair Bolsonaro. Sua prisão preventiva foi decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, em 3 de setembro de 2021, por entupimentos fascistas. O auxiliar Sérgio Reis, depois de detonar os casarões da democracia, disse que não era bandido: “Não matei, bati nem ofendi ninguém. Não mereço ser preso. Eu errei, quem não erra? Quem não faz bobagem um dia?” Outro, cuja britadeira golpista silenciou para evitar a prisão.
Sara Winter foi pioneira na mistura da argamassa golpista. Pretensa líder de um movimento chamado de 300 do Brasil, inaugurou a prisão por distribuir escrituras autoritárias. Ela, junto com outros 6, foi presa em junho de 2020 por tentar demolir a democracia. Chefiou uma estalagem de celerados, com menos de 30 pessoas, que chegou a atirar fogos contra o telhado do STF. Ela, como Roberto Jefferson, publicou fotos armada nas redes sociais em gestos de intimidação contra os Poderes Constituídos. Sara fazia provocações a Alexandre de Moraes. “Nunca mais vai ter paz na sua vida”, disse ela na tentativa de intimidação. Ideia de jerico que deu cadeia. Depois de 9 dias na prisão veio a penitência: “E não tem Bolsonaro para ajudar, e não tem Damares para ajudar”.
Bolsonarista terrivelmente evangélico, o pastor Everaldo Pereira, presidente nacional do PSC, e seus dois filhos, Filipe Pereira e Laércio Pereira, foram presos em agosto de 2020 na Operação Tris in Idem, que também determinou o despejo do cargo e posterior impeachment do ex-governador Wilson Witzel, do Rio de Janeiro, eleito com Bolsonaro. O pastor foi citado na delação premiada do ex-secretário de Saúde, Edmar Santos, por conta da influência dele no Palácio Guanabara, e preso por corrupção. Segundo a delação, era o pastor Everaldo quem mandava na saúde do Rio de Janeiro. Preso por suspeita de corrupção, é mais um do grupo da moralização de fachada. Selma Arruda e Fernando Francischini, senadora e deputado eleitos sob a falsa austeridade do Bolsonarismo, foram desalojados dos mandatos pelo TSE e engrossam os feridos pela queda da cobertura política.
A ex-deputada bolsonarista Flordelis, também está recolhida, atrás das grades. Ela foi presa no mesmo dia de Roberto Jefferson, em sua casa, em Niterói, no Rio de Janeiro, 48 horas depois de perder o foro privilegiado. Ao deixar a residência, a ex-deputada carregava uma Bíblia e repetia a seus familiares: “Amo vocês, fé em Deus”. Flordelis é acusada de ser a mandante da morte do então marido, o pastor Anderson, assassinado na porta de casa em 18 de junho de 2019. Ela responde por homicídio triplamente qualificado – motivo torpe, emprego de meio cruel e de recurso que impossibilitou a defesa da vítima – tentativa de homicídio, uso de documento falso e associação criminosa armada. Essa, dizem os bolsonaristas, é de casa.
Um tal “Jairinho”, preso como suspeito de matar a pancadas uma criança de 4 anos, faz jus ao convívio no condomínio da escória. Flávio Bolsonaro apareceu em um vídeo fazendo empreendimentos políticos com o pai do “Jairinho”, coronel Jairo. Pai e filho foram citados em depoimentos por envolvimento com as milícias. Outros homicidas estão albergados na mesma estância. Há o vizinho miliciano, Ronie Lessa, suspeito de executar a vereadora Marielle Franco e Adriano da Nóbrega, chefão do escritório do crime, “cancelado” num confronto com a polícia na Bahia. Ele emplacou a mãe e a esposa no gabinete de Flávio Bolsonaro, cujo telhado de vidro não lhe garante nenhuma sombra. Adriano da Nóbrega recebeu uma medalha próprio Flávio Bolsonaro. Jair Bolsonaro o chamou de “herói”.
Os parentes da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, também estão familiarizados com o condomínio da carceragem e da falsa moral. A avó, falecida, foi presa por tráfico. A mãe respondeu por falsificação de documentos e o tio João Batista Firmo Ferreira, envolvido num esquema de grilagem de terras, foi sentenciado a 10 anos por integrar uma milícia que vendia lotes ilegais em Brasília. Michele Bolsonaro recebeu em sua conta bancária R$ 89 mil depositados por Fabrício Queiroz, assessor de Flávio Bolsonaro, preso em 2020. Indagado sobre a origem e razões da grana, o capitão sentiu a estrutura balançar e ameaçou socar um jornalista: “Minha vontade é encher tua boca na porrada. Seu safado”. Mas a pergunta simples continua sem resposta.
Fabrício Queiroz era uma espécie de corretor-geral de Flávio Bolsonaro. Amigo de Jair Bolsonaro, foi apontado pelo MP como operador das ‘rachadinhas’. Queiroz, o senador Flávio e outros 15 foram enquadrados por 3 crimes: peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Fabrício Queiroz trabalhou por mais de dez anos nos canteiros de Flávio Bolsonaro. A planta baixa do Coaf mostrou movimentações de R$ 1,2 milhão na conta de Queiroz entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. Queiroz foi preso em Atibaia em junho de 2020 no tugúrio de Frederick Wassef, então advogado de Flávio. Depois obteve uma domiciliar junto com a esposa que beliscou o mesmo benefício, mesmo sendo foragida. O MP acusou Flávio Bolsonaro de liderar uma organização criminosa que teria desviado R$ 6 milhões da Alerj através de “funcionários fantasmas” em cargos de confiança. A Promotoria identificou que mais de R$ 2 milhões foram repassados para a conta de Fabrício Queiroz, que transferia o dinheiro através do pagamento de despesas da família Bolsonaro, depósitos em contas bancárias do casal e transações imobiliárias para fomentar a Casa Nostra.
Reluzente representante da sacada da nova política é o ex-líder de Bolsonaro, Francisco Rodrigues. Flagrado ocultando perto de R$ 30 mil na cueca, ele foi ejetado da liderança no Senado no dia seguinte. O “Diário Oficial da União” publicou em edição extra no dia 15 de outubro de 2020 a mensagem de Jair Bolsonaro informando sobre o despejo do senador Chico Rodrigues. Depois do sumiço de 121 dias, Chico Rodrigues voltou ao mandato dizendo que carregará para sempre as “chagas dessa excruciante provação”. Enxergou no vexame uma fenda divina: “Entendo que se Deus e o destino me aproximaram da profundidade e da intensidade dessa dor, através de toda essa indescritível vergonha, é para que eu pudesse me aproximar também mais dos sofrimentos alheios, para que aumentasse minha empatia para com os que sofrem dores muito maiores, para entender os que são açoitados por injustiças ainda mais implacáveis”, disse o senador.
O ex-ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, foi denunciado pelo laranjal do PSL. O partido que elegeu Bolsonaro também é alvo em outros estados. Ricardo Salles, ex-ministro, é investigado por corrupção. Abraham Weintraub, que defendeu a prisão dos “malandros” do STF, tem processo. Onyx Lorenzoni pagou para escapar do crime confesso de caixa 2. Eleitos na falsa renovação contra a velha política, os governadores de SC e AM foram alvos de pedidos de impeachment por suspeitas de irregularidades. Há ainda os crimes contra o Estado Democrático, pelos quais são investigados os filhos do presidente e diversos parlamentares. Entre os sem-teto figuram ainda o ex-secretário de Cultura, Roberto Alvim, que plagiou o nazista Joseph Goebbels; o ex-chefe da SECOM que produziu a peça publicitária com dizeres análogos ao campo de concentração de Auschwitz; o ex-chanceler Ernesto Araújo que equiparou o isolamento social aos campos de concentração e Felipe Martins, assessor que usou gestos supremacistas. Esse ainda é funcionário do governo. Isso para não falar em Damares, Reginas, Bias, Carlas, Janaínas, Queirogas, Helenos e outros venenos.
O espectro do mal e a incompetência permeiam a gestão. Em 3 anos nenhuma obra prometida foi entregue pela patuleia. A economia está em ruínas. Ela exige planejamento, cálculos estruturais, fundações sólidas, alicerces seguros para evitar rachaduras e, sobretudo, rejeita remendos. O subsíndico, Paulo Guedes, que sempre promete entregar algo na semana que vem, fracassou na empreitada. Depois de espanar todos os cômodos da economia, as gambiarras provocaram o curto-circuito do desemprego, da miséria e da inflação, que vai explodir com a crise dos combustíveis. De olho na reeleição improvisa-se um bacanal fiscal, gastanças com frágeis vigas eleitoreiras e desenhos populistas.
O Brasil se transformou em um mausoléu mal-assombrado. As paredes estão trincadas, os canos entupidos, as calhas quebradas, as infiltrações trincam o teto, a fossa cheira mal, o lodo invadiu as instituições, as dobradiças estão enferrujadas, as portas emperradas e a parte elétrica em pane. Na caixa e na piscina a água vaza pelos ladrões. Com tantas fissuras, um dia a casa cai. Uma casa extremamente frágil, sem fundações sólidas, erguida no improviso a partir de muitas fraudes. Eis o barro podre que edificou um quiosque que se esfarinhou muito rápido.