O ministro da Fazenda Henrique Meirelles emerge de forma inevitável no cenário sucessório. Ele administra o único caso de êxito visível do binômio Dilma/Temer, desde que a dupla reassumiu seus mandatos em 2015 e, em sequência, um depois do outro, dão sua colaboração para a História do Brasil.
A trajetória de Fernando Henrique autoriza esta formulação. Além disso, quando o nome do ministro apareceu em 2015 como tábua de salvação para Dilma Rousseff, no mercado duvidava-se que ele se dispusesse a receber ordens daquela presidente. A única explicação para sua concordância seria que seu mentor, o ex-presidente Lula, prometera-lhe o comando do governo como um primeiro ministro virtual e a posterior candidatura à sucessão. Não deu certo. Dilma rechaçou e foi o que se viu.
Com Temer, Meirelles voltou. Como se comandasse um governo paralelo, imune às tropelias, ele pilota a economia em céu de brigadeiro, embora à frente já se avistem alguma nuvens de trovoada. A dúvida é saber até quando o setor privado conseguirá sustentar, sozinho, a estabilidade, enquanto o setor público afunda-se incontrolavelmente. Desafio para o mago Meirelles, que mantém a nave voando só na confiança dos passageiros. É uma proeza moral e política. Credencia-se.
A dúvida é saber como Meirelles poderá ganhar visibilidade para ser um candidato numa democracia de massa, com quase 150 milhões de cabeças, cada qual com sua sentença.
Seu ministério é e não é uma boa vitrine. No dia a dia um ministro da Fazenda fala de assuntos pouco compreensíveis, não só para o povo em geral, mas até para segmentos aparentemente letrados. Câmbio, base monetária, regulamentos, são temas áridos. Entretanto, quando fala ao bolso da cidadania é logo entendido. Haja vista a popularidade de outros ministros que fizeram milagres: Dilson Funaro, com seu Plano Cruzado, não fosse a gulodice do PMDB, seria imbatível nas eleições de 1989. Fernando Henrique, com o Real, acertou em cheio. Se Meirelles tirar o Brasil do buraco terá muitas possibilidades de empolgar.
Isto explica a sofreguidão do PSD de colocar seu nome na pauta. Mas não é tudo. Pode ter mais por baixo da linha d’água. Uma delas: Temer cassado deve haver eleição indireta; Temer desincompatibilizando-se para concorrer ao legislativo, também deve-se eleger outro presidente para um brevíssimo mandato “tampinha”. Meireles seria o candidato.
Então aí vem aquele incômodo no Palácio do Planalto revelado por Helena Chagas. Meirelles presidente por alguns poucos meses, dois ou três, contando-se os prazos em caso de afastamento voluntário do atual presidente. Ele ganha a visibilidade necessária para concorrer com força à reeleição. Este sim seria um fato novo de grande relevância eleitoral num quadro de nomes fracos ou muito desconhecidos.
Há alguns obstáculos, mas nada que não possa ser superado, tal como a manutenção dos diretos políticos da presidente “empichada”. Uma coisa é certa: há mais um ator no palco.