Laranja madura, na beira da estrada… ditado mais velho que a Sé de Braga, diria o sábio Otto Lara Resende. Mentirinha de pernas curtas.
Aos que pensavam estar dando um drible no STF, vale o acréscimo de outro sábio mineiro, o sambista Ataulfo Alves: “ ‘tá bichada, Zé, ou tem marimbondo no pé”. Acaba em ferroada.
Não é comigo
O golpezinho das raposas políticas, de início, até que funcionou, mas logo veio a estourar justamente no colo do presidente Jair Bolsonaro, que não teria nada com isto, diz o acusado de ser o autor da fraude, o agora ex-ministro Gustavo Bebiano.
Tudo muito simples. A Justiça, atendendo a uma lei antiga, proíbe a doação de empresas a partidos ou candidatos. Atitude elogiada por todos.
Os incautos, achando que era a moralização das campanhas, o fim dos marqueteiros, aplaudiram de pé. Já os profissionais, vendo aí uma forma para acabar com as doações legais, escondiam-se atrás da moita.
O plano era simples: com a proibição de doações vultosas pelas pessoas jurídicas, todas as arrecadações seriam pelos chamados Caixas 2. Esses aportes por debaixo do pano dispensam prestações de contas.
Aí, veio a Lava Jato
É claro que a proibição das contribuições das empresas não seria para valer. Os especialistas se perguntavam: como praticar eleições gerais numa democracia de massa, com mais de 150 milhões de eleitores, sem dinheiro? Nem na Roma antiga.
O que deu errado na esperteza? Então, estava o campo mais ou menos aberto. Então, veio o aperto, na esteira da Lava Jato.
Com a judicialização e policiamento efetivo, cresceu o poder de fiscalização da Justiça Eleitoral e os políticos ficaram com medo de, burlando a lei, como era o costume, serem impugnados.
O seguro morreu de velho. Aconselhava-se procurar outra saída, rápida e eficiente.
Laranjal partidário
Foi então que alguém teve a ideia brilhante: uma cota do Fundo Partidário seria destinada às mulheres. Com isto, aprovar a cota para as candidatas foi um bateu-valeu, pois, qualquer coisa politicamente correta passava direto no Parlamento, sem arestas. E assim se fez.
Em nome do feminismo, criaram um ralo para que os dirigentes partidários não perdessem seus poderes de controle. Nas legendas de aluguel, este poder é inerente à própria existência do partido. Como no caso do PSL, que até então tinha apenas um único deputado federal, mas poderia enfiar várias laranjas no saco.
Entretanto, não se pode culpar unicamente o PSL, que está sendo malhado como judas em Sábado de Aleluia. Também todos os demais partidos tiveram suas laranjas de amostra.
Denunciado o partido do presidente por uma reportagem de jornal (Folha de S. Paulo), caiu a casa e desabou junto o ministro Bebiano. Culpa da laranja.
O Brasil das laranjas
Entretanto, o Brasil não pode execrar o afamado cítrico. É uma riqueza nacional. Somos o maior produtor mundial, produzindo 245 milhões de caixas/ano, enquanto o segundo lugar, os Estados Unidos, colhem apenas 67 milhões de caixas. Isto é 61% do suco de laranja que se bebe no mundo. 14 bilhões de dólares por ano, mais de 10% da receita cambial.
O maior produtor é São Paulo, com 13.357.732 toneladas; depois vem Minas, com 9.512.402,2 toneladas; e Paraná, em terceiro, com 871.236 toneladas. É muita laranja. Não dá para reclamar da solitária laranja de amostra do deputado Luciano Bivar.
Também as mulheres não se aproveitaram das cotas. As que se elegeram, algumas com votações recordes, como Janaína Paschoal e Joice Hasselmann, tiveram seus votos captados duramente, na base dos três esses: sola da sapato, saliva e santinho. Como qualquer candidato, use ou não saia.