Juro maior (- inflação, – emprego) ou juro menor (+ inflação, + emprego)?

O Banco Central agora é independente, pode mexer nos juros básicos na medida que julgar conveniente. Porém, a decisão do COPOM, liderado por um presidente indicado pelo atual mandatário, terá reflexo direto no índice de desemprego. Portanto, na eleição presidencial

O Copom (Comitê de Política Monetária) aumentou mais uma vez a Taxa Selic, referência dos juros para todo o País - Foto: Beto Nociti / BC
A precaução do frentista que abastece automóveis no posto de gasolina – Foto: Orlando Brito

O elevado reajuste do óleo diesel, gasolina e gás de cozinha é mais lenha na fogueira da inflação que o Comitê de Política Monetária do Branco Central (COPOM) terá que enfrentar na reunião desta semana. As sinalizações feitas ao mercado eram de que a autoridade monetária iria elevar dos atuais 10,75% para 11,75% a taxa Selic.

O impacto dos aumentos de preços sobre o conjunto da economia deve ser de maior intensidade nos índices de inflação de abril, mas se o BC quiser evitar novo ambiente inflacionário em 2022 teria que aplicar taxas de juros maiores, ao contrário do que chegou a sinalizar na última ata do COPOM. Mas pode manter sua programação inicial de mais dois reajustes de juros, o que na prática significaria sancionar uma inflação acima do recomendável para evitar sacrifícios recessivos da economia em ano de eleições.

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, que segue a cartilha de economistas como Milton Friedman, da escola de Chicago, acredita que a inflação é um fenômeno essencialmente monetário: a taxa de inflação é proporcional à variação do estoque de moeda na economia. O remédio é reduzir o estoque da moeda na economia com o aumento das taxas de juros. O efeito do remédio é contração da economia e um aumento no nível de desempregados. É que quando juros sobem ocorre, em tese, uma desvalorização de todos os demais ativos.

Teoria dos Ciclos

O economista norte-americano Charles Plosser foi presidente do Banco Central dos EUA

Sobre a eficácia da aplicação deste controle monetário, o economista americano Charles Plosser acredita que a capacidade dos governantes de implementar políticas de surpresa para enfrentar a inflação desapareceu, uma vez que existe um modelo para a tomada de decisões dos Bancos Centrais que se tornou conhecido por todos os agentes econômicos.

Assim, a flutuação do produto não deve ser explicada pela falta de informação. A explicação pela teoria dos ciclos reais é a de que a variação do produto (estoque de moeda) e do emprego são decorrentes de choques tecnológicos e não monetários. Os choques estão no lado da oferta e não da demanda, como é o caso na mudança de preços de energia, petróleo e commodities – devido enchentes ou guerras, como a Guerra da Ucrânia. É de se esperar que qualquer que seja a taxa de juros praticadas no Brasil seu efeito sobre a formação dos preços dos combustíveis será mínimo. O aumento dos preços no mercado internacional do petróleo, soja, trigo, milho tem mais a ver com restrição de oferta devido à guerra da Ucrânia, invadida pela Rússia.

Menos inflação, mais desemprego 

Carestia e desemprego são dois flagelos, cuja percepção negativa se maximiza em tempos de eleição

Todas as linhas de pensamento, no entanto, concordam que um aumento maior de juros contribui para reduzir mais rapidamente a inflação. O efeito é uma queda maior da economia e aumento do desemprego. Juros menores aplicados ao longo de tempo contribuem para reduzir mais lentamente a inflação com custos sociais menores. É certo também que um aumento de juros hoje leva seis meses para produzir efeitos mais consistentes.

Como teremos eleições em outubro, tudo leva a crer que o Banco Central, mesmo sabendo da gravidade da escalada da inflação, deve aliviar a mão sobre as taxas de juros para não trazer tantos prejuízos à pretensão de reeleição do presidente Jair Bolsonaro. Embora o Banco Central tenha autonomia para executar a política monetária de combate à inflação, não tem a independência para fixação da meta. Isto por que a meta de inflação de 2022, de 3,5%, com tolerância de 2 p.p. para mais ou para menos, foi fixada pelo Conselho Monetário Nacional, onde o ministro Paulo Guedes, da Economia, tem poder de decisão.

Presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, fala em comissão do Senado Federal – Foto: Orlando Brito

A inflação de 2021 ficou acima da meta, assim como deve ocorrer em 2022. Roberto Campos Neto foi obrigado a explicar ao Senado Federal que não pôde cumprir a meta devido aos efeitos inesperados da Covid-19 sobre a economia. Na verdade, é preciso levar em conta que em 2020 e 2021 as taxas de juros reais foram negativas, especialmente quando caíram para 2%, o que deve ter contribuído para a força da inflação que carregamos até agora.

Selic: sem efeito sobre a gasolina

As estimativas do mercado eram que os juros seriam elevados para mais 1% na próxima, na seguinte 0,25% e depois disso começaria a cair devendo chegar ao final do ano em 8%, diante do recuo da inflação. O cenário atual de aumento dos combustíveis deve mudar as expectativas. É que juros mais altos têm impacto limitado sobre os preços destes produtos, uma vez que são escassos os seus substitutos no mercado e há limites para redução de consumo. A economia não consegue girar sem gasolina, óleo diesel e gás.

A relação dólar-real marcará profundamente as eleições gerais de 2022 no Brasil

A realidade é que querendo ou não teremos mais juros altos à vista. O aperto monetário poderá ser aliviado, em parte, dependendo do comportamento do câmbio, um dos preços fundamentais que formam outros da nossa economia. Se a cotação do dólar cair abaixo de R$ 5,00 poderá ser de grande ajuda para o BC. Isso pode ocorrer pelo atual patamar de juros e o aumento do fluxo de ingresso de divisas estrangeiras.

O certo é que o Banco Central tem pela frente um problema de grande magnitude, reflexo dos impactos da Guerra a Ucrânia sobre a econômica mundial e as mazelas da nossa situação local. Os dirigentes do BC têm os instrumentos monetários para agir. O momento exige talento e arte para encontrar a melhor solução. Só não pode errar de mão, pois a conta mais cedo ou mais tarde terá que ser paga pelo contribuinte.

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