O Exército tinha um plano para a retomada dos territórios ocupados pelo tráfico, quando foi atropelado pela operação combinada da Política Militar do Rio de Janeiro e da Marinha do Brasil em 2010. Aplausos gerais, bandidos em debandada, imagens premiadas internacionalmente. Grande vitória.
Naquela época estranhou-se a participação dos blindados de desembarque dos Fuzileiros Navais, carros próprio para operações litorâneas, quando o Exército possuía veículos mais adequados às ações terrestres. Não demorou muito veio a explicação: o governador Sérgio Cabral, impaciente, não esperou a maturação do processo, como era a doutrina do Exército, e atacou. Deu no que deu.
A versão extraoficial, pois o Exército não criticou abertamente a operação, dizia que a força terrestre desenvolvera, no Haiti doutrina e treinamento para esse tipo de ação psicossocial/militar. Na avaliação, ainda não chegara o momento, pois faltavam elementos essenciais, como um levantamento de inteligência.
Este projeto estaria, agora, maduro. Daí se explicam algumas afirmações enigmáticas de alguns chefes militares, nos últimos dias. Uma delas preparando a população para o conflito armado que certamente acontecerá nas áreas urbanas. Esse é um problema político que se vai colocar quando se abrirem as hostilidades.
Até onde os governos aguentam é a incógnita política. Se der certo, contribui para a vitória nas eleições. Entretanto, como a esquerda já se levanta contra a intervenção, se der errado o governo perde. Muito simples.
Não se esperam grandes batalhas. Exageradamente, alguns analistas dizem que com efetivos estimados em 5.000 homens, o tráfico teria uma força equivalente ao Estado Islâmico em Mossul, no Iraque. Os números podem coincidir, mas as motivações são muito diferentes. Os traficantes combatem por dinheiro. São mercenários, ao contrário dos fedains.
As batalhas diárias nas favelas, atualmente, são entre as quadrilhas. Bandido não enfrenta a polícia em guerra total. Atira aqui e ali, mas sempre se entrega à prisão. Depois fica por conta dos advogados, para resolver a questão nos tribunais. Matar-se só entre eles. É o que ocorre no Rio: as forças da Polícia Militar apenas acompanham de longe e gravam em seus celulares os tiroteios entre facções.
Este foi o desfecho da ação de 2010: atacados por forças blindadas, os bandidos fugiram, deram um tempo e voltaram. Por seu turno, as forças policiais foram pouco a pouco perdendo o controle e o ímpeto.
Atualmente a Polícia Militar está inerte, sem ação, paralisada. À boca pequena, seus oficiais dizem que os PMs estão “algemados”, pois perderam a batalha da comunicação. Tudo de mal que ocorre numa favela a culpa é do policial, dizem. E assim está.