Não tenho a menor dúvida que armas nucleares serão utilizadas, seja por consequência desta guerra na Ucrânia, ou em guerras futuras. Triste para os nossos filhos e netos.
A maldade se repete na história, vingando-se, com juros e correções de interesses e narrativas, de significativas vitórias civilizatórias. De Weimar a Auchwitz, da ONU e Tribunais Internacionais aos Gúlaks na União Soviética e em tantos outros lugares no mundo atual. Da ciência objetiva de um Sabin à armas biológicas já testadas em pleno século XXI. Há um pêndulo irremovível entre luz e trevas. Muito conhecimento de ponta para a vida. Muita tecnologia em favor da morte.
A política fora da falecida Guerra Fria cedeu espaços tenebrosos para uma progressiva dominação capitalista líquida na qual a desintermediação torna-se sinônimo de eficiência. É a tendência geral, desembocando na disputa atual por direção hegemônica mundial travada entre blocos aproximados dos EUA e da China.
Agora as compensações dos países ricos pela via de distribuição de direitos diante do “perigo comunista real” do século passado, não se justificam nem são mais possíveis diante de um acirramento de duas situações politicamente não tendenciais aos ventos democráticos: 1ª)a do capitalismo financeiro, seletivo e perverso na produção e no consumo, quanto na flexibilização de direitos e do próprio estado de direito; 2ª) a do capitalismo industrial, exponencial e guloso na expansão de novos mercados, sem compromisso algum com a cultura de um mundo (bem ou mal) regido historicamente pelo estado de direito e por costumes comerciais.
Os EUA e boa parte da Europa enfrentam curtos-circuitos em seus sistemas de governabilidade. Um Império é isso. Poder. Violência. Não Poder. Decadência. Na China, os direitos humanos nas suas diversas dimensões inexistem. São cinco mil anos de pena de morte, sem interrupções. O presidente é vitalício. A estrutura colossal do partido único legado do comunismo garante a máquina produtiva. Eis o novo império. É Chinês, não russo.
O Brasil, seja com Bolsonaro ou Lula estará no fio da navalha face ao mundo revelado nessa guerra acima mencionada. Sobrará para nosso país em algum momento que o hoje já prenuncia, a dificuldade e a sinuca de bico criada pelo conflito na Ucrânia. Somos um país continental riquíssimo, cuja cobiça por recursos naturais e estratégicos já existem no tabuleiro internacional. Nesse xadrez seremos os peões da vez para ocupações e repaginações territoriais e geopolíticos.
Deixar que gente como Zé Dirceu ou Eduardo Bolsonaro influenciem na política externa parece, de igual maneira, darmos um sim para a nossa possível aceleração de dilemas antigos e conflitos ao redor do mundo neste convulso tempo de guerra entre o canibalismo financeiro redutor de direitos e capitalismo industrial sem Direitos.
Numa ordem da desordem agudizam contradições e até que revoluções burguesas e lutas por direitos fundamentais ocorram com força para produzirem transformações na China e outros sistemas políticos ditatoriais, o que temos para impedir barbáries e caminhar para a paz?
Os BRICS unem alguns e dividem de vez outros. A ONU tende a retirar a Rússia do Conselho de Segurança. O Mercosul faliu há muitos anos.
No Brasil, desde Lula, sonhou-se com uma união de países na América Latina. O fórum de SP revelou -se como mais um sintoma de nosso ornitorrinco social. A presença de Zé Dirceu e Rui Falcão como mentores de Lula-presidente, é preocupante na medida em que teremos o enviesamento ideológico no seu avesso histórico. De outro lado, é aterrorizante a aproximação das forças ultraconservadoras de Bolsonaro com Trump e depois o distanciamento de Biden, oscilando agora entre deselegâncias e impropérios do Presidente com a China, com carícias e beijos em Putin.
Se não voltarmos a ter uma diplomacia de antigamente, minimamente profissional, com certa autonomia e pragmatismo, vamos pagar um preço muito alto. Seremos mais facilmente a ovelha mais apetitosa da vez para a alcateia à nossa espreita.
Por certo, sair da situação de presa fácil, depois de séculos de dependência, é muito difícil e improvável. Sem poder militar minimamente competitivo, seríamos dominados em poucos dias. Com elites alienadas (todas elas) divididas entre interesses corporativos e o que tomam como ideários políticos (ou ideologias liberal e de esquerda) corrompidos por várias razões (ignorância, desatualização, dinheiro), nosso Brasil atrairá os mercenários no estilo Biden, Putin e Zelensky, entre muitos que a título de preservar a ordem e a segurança, a democracia e a cultura, a paz e a convivência de nações, produzem os algozes da sociabilidade e preparam em escala nuclear muitas guerras. Interesses particulares preponderam acima de classes e Estados.
Enquanto isso vamos alimentando uma estranha polarização na qual diluem-se e se apagam as trilhas para entender os reais antagonismos e seus desdobramentos, as novas contradições, de maneira a escolhermos com maior discernimento candidatos capazes de enxergar com segurança os cenários incertos que a guerra da Ucrânia levará a todos.
– Edmundo Lima de Arruda Jr