O presidente Jair Bolsonaro reedita a tomada do poder por Getúlio Vargas, quando adentra à Praça dos Três Poderes a cavalo (domingo último), repetindo a tomada do Rio de Janeiro pelo caudilho gaúcho, atando seu cavalo no obelisco em frente ao Senado Federal, em 1º de novembro de 1930.
Ao chegar triunfante ao centro do estado brasileiro, galopando, cercado por militares da ativa da PM do Distrito Federal, só faltou o presidente da República atar a rédea de seu corcel no mastro da bandeira e adentrar ao Supremo Tribunal Federal como fez seu antecessor há 90 anos.
A cavalgada de Bolsonaro foi simbólica, como o gesto dos gaúchos de Getúlio. Bolsonaro já é presidente, mas tem seu poder limitado pelos tribunais e câmaras legislativas; Vargas entrou no Palácio Monroe para tomar posse como ditador (nome oficial de seu cargo naquele momento) fardado de tenente-coronel do Corpo Provisório de São Borja da Brigada Militar do Rio Grande do Sul para marcar que chegava como chefe de uma revolução.
Com isto esclareceria à Nação. Pouco antes de sua entrada triunfal (Getúlio desfilou em carro aberto pela avenida Rio Branco), os ministros militares deram um golpe de estado depondo e prendendo o presidente Washington Luís, oferecendo o poder ao governador gaúcho que, desde 3 de outubro, avançava sobre a capital. Vargas não aceitou a oferta: preferiu entrar na cidade à frente de seus soldados para caracterizar que tomava o poder pela força. Bolsonaro também chegou à Praça dos Três Poderes cercado por soldados armados (os cavalarianos da PM davam segurança ao presidente ou o escoltavam o líder na cavalgada?). Cena emblemática.