Continuação …
Maravilhosa, porque hoje há nos céus guanabarinos uma irresistível
e impassível Lucina minguante. Os pássaros da manhã, biguás
cadenciados, não apareceram para o ensaio, talvez, quem sabe, estejam
preguiçosos na quarta ou, quem sabe, no meio da semana haja folga… vai
saber, ou não.
Não há nuvens densas no éter, onde se equilibrará o Sol para seus
malabares? O páramo está translúcido, límpido. Ainda é possível ver
Nictheróy. Não com tanta nitidez como outrora, infelizmente, a poluição
retornou de forma mais contundente e agressiva.
Cidade preguiçosa, desperta… talvez ainda não, " só mais dez
minutos…", quinze, talvez, põe na ‘soneca’. Tudo está preguiçoso nesta
quarta. Até os pássaros parecem achar que hoje é feriado.
Já que não há nuvens, safo, o Sol ensaia seus movimentos de
equilibrista na encosta da montanha. Vem como se fosse uma bola de
sabão incandescente. Vem cantarolando Caê: "…Quero preguiça, quero
querer/Quero sonhar, felicidade/É o amor, é o calor/A cor da vida/Meu
coração, é a cidade//Rio, eu quero suas meninas, eu quero suas
meninas//O Rio está cheio de sol…". o Rio está saudoso das meninas
coloridas pelo Sol, vagantes do Leme ao Pontal.
Completando a consonância, ao longe os sons de sabiás-laranjeira,
bem-te-vis e maritacas-cara-preta espalhafatosas a fanfarronas, concluem
os acordes deste hino, poema musicado.
O Rio é a ‘Flor do Lácio’ bilaquiana.
“…Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude…” Rio de Janeiro!