Diz uma fábula, atribuída aos índios Cherokee, que todos os homens possuem dois lobos guerreando dentro de si: um bom e um mau. E que ganhará o lobo que o indivíduo escolher alimentar.
Essa história evidencia a dualidade e a complexidade humana. Ninguém é totalmente bom, nem totalmente mau, isso até as novelas da Globo já mostram há muito tempo. Aliás, a ficção é pródiga em personagens que fogem de clichês e que alimentam ora um lobo, ora o outro.
Dito isto, volto ao assunto do momento, a barbárie do dia 8 de janeiro. Os devotos de Bolsonaro usaram a tática pra lá de manjada de jogar a culpa nos outros, disseminando fake news que insinuam que o quebra-quebra nos palácios foi orquestrado por esquerdistas infiltrados. Eles alegam que os bolsonaristas são pessoas de bem, trabalhadores, pais de família, conservadores, tementes a Deus etc e que jamais cometeriam atos daquela natureza.
Voltando à fábula, tanto a turma pendente à esquerda, quanto a turma pendente à direita, e seus extremos, possuem os dois lobos dentro de si. Indo além, em qualquer das tendências, há pessoas melhores e piores, ou há bem intencionados e mal intencionados.
Eu mesma conheço patriotas com um histórico de vigarice e mal feitos de dar inveja a muito bandido de alta periculosidade. Conheço também gente de esquerda que não vale um tostão.
Assim acontece em qualquer agrupamento de pessoas: haverá os que alimentam o lobo bom e os que alimentam o lobo mau. Segundo Freud, é provável que, participando da massa, o mau, normalmente reprimido, acabe se liberando.
A teoria Freudiana explica que quando um indivíduo se torna parte de uma multidão, seu inconsciente se liberta. Por isso a pessoa tende a seguir o líder carismático da massa, preferencialmente o mais aguerrido.
O líder carismático, no caso, pode ser um bolsonarista aquartelado mais inflamado, que não aceita o resultado das eleições e quer impor a sua vontade pela força, ou o próprio Bolsonaro, que adora alimentar lobos raivosos.
O noticiário costuma mostrar crimes cometidos, num momento de loucura, por indivíduos aparentemente de bem que não conseguem se controlar. Às vezes pessoas tranquilas, de comportamento afável, cometem atos que não combinam com seu temperamento. Nem vou me repetir, Freud e os Cherokees explicam.
O fato de ter o comportamento pregresso bom e nunca ter demonstrado tendência para atos criminosos não tira a responsabilidade de quem cometeu um delito. Creio que isso pode, no máximo, atenuar a pena de alguém que pela primeira vez se meteu numa roubada.
Daí porque esse argumento de que muitas pessoas foram presas injustamente não cola. Mesmo que sejam do bem e coisa e tal, se erraram, seja por influência do grupo, seja por falta de caráter, seja por um momento de loucura, devem pagar por isso.
A Fábula dos Dois Lobos (dos índios Cherokee)
Certo dia, um jovem índio cherokee chegou perto de seu avô para pedir um conselho. Momentos antes, um de seus amigos havia cometido uma injustiça contra o jovem e, tomado pela raiva, o índio resolveu buscar os sábios conselhos daquele ancião.
O velho índio olhou fundo nos olhos de seu neto e disse:
“Eu também, meu neto, às vezes, sinto grande ódio daqueles que cometem injustiças sem sentir qualquer arrependimento pelo que fizeram. Mas o ódio corrói quem o sente, e nunca fere o inimigo. É como tomar veneno, desejando que o inimigo morra.”
O jovem continuou olhando, surpreso, e o avô continuou:
“Várias vezes lutei contra esses sentimentos. É como se existissem dois lobos dentro de mim. Um deles é bom e não faz mal. Ele vive em harmonia com todos ao seu redor e não se ofende. Ele só luta quando é preciso fazê-lo, e de maneira reta.”
“Mas o outro lobo… Este é cheio de raiva. A coisa mais insignificante é capaz de provocar nele um terrível acesso de raiva. Ele briga com todos, o tempo todo, sem nenhum motivo. Sua raiva e ódio são muito grandes, e por isso ele não mede as consequências de seus atos. É uma raiva inútil, pois sua raiva não irá mudar nada. Às vezes, é difícil conviver com estes dois lobos dentro de mim, pois ambos tentam dominar meu espírito.”
O garoto olhou intensamente nos olhos de seu avô e perguntou: “E qual deles vence?”
Ao que o avô sorriu e respondeu baixinho: “Aquele que eu alimento.”
Fonte – texto encontrado em diversos sites da rede mundial de computadores (Internet).
(P.S.: Esse texto é uma homenagem a Liz e Luke, meus netos de 2 anos e 8 meses, que falam de Lobo Mau o tempo todo.)