Com a decisão desta quarta, 21, o Banco Central deu por encerrado o movimento de aumento de taxas de juros na tentativa de trazer a inflação para baixo. A autoridade monetária, no entanto, tirou qualquer a esperança da equipe econômica de Jair Bolsonaro de que iniciaria um processo de queda dos atuais 13,75% de juros em 2022, bandeira esperada em ano de eleições.
Mesmo com expectativa de que a inflação fique em torno de 6% este ano, depois de dois meses seguidos de deflação e sinais de queda dos preços dos alimentos, a queda gradual e lenta das taxas de juros só deve ocorrer a partir de meados de 2023. Assim, o Banco Central estará praticando uma política monetária fortemente contracionista se forem levados em conta o cenário da economia do Brasil e do resto do mundo.
Travas internacionais ao PIB
O novo aumento das taxas de juros do FED (Banco Central dos Estados Unidos) para desestimular o consumo, alimentado pelo forte mercado de trabalho e, consequentemente a maior inflação americana de décadas, é um fator da maior importância. A retração da economia mundial ocorrerá também por outros dois fatores: o aumento de juros nos países europeus para segurar a inflação e a queda do nível de atividade produtiva da China. Diversos indicadores sugerem que a China deve ter crescimento em 2022 abaixo de 3%, o que vem provocando impacto interno e externo. As exportações do resto do mundo para a China devem cair, assim como para os Estados Unidos e a Europa. O Brasil terá dificuldades de manter os mesmo níveis de exportações, especialmente de produtos manufaturados, perdendo na captação de divisas, geração de empregos e arrecadação de tributos.
O aumento em mais 0,75% dos juros do FED, que cria expectativas de que a taxa anualizada passe de 4%, trará consequências forte sobre o câmbio. A valorização do dólar significa na prática uma desvalorização do real. Se de um lado contribuiu para segurar a inflação, torna os custos das importações mais caros. O segmento dos setores químico, farmacêutico e de insumos agrícolas serão penalizados, embora para a atual safra já tenham sido adquiridos em condições melhores.
De novo, o voo da galinha
Desta forma, diante deste cenário internacional, da politica monetária contracionista do BC brasileiro da e depreciação do nosso câmbio, não há qualquer dúvida de que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) este ano no Brasil é fruto do que os economistas chamam de voo de galinha. Não é sustentável. A tentativa do ministro da Economia, Paulo Guedes, de estimular o crescimento da economia para criar ambiente favorável a seu chefe nas eleições vai dar em nada.
Por todas as razões relacionadas à atividade da economia mundial, já mencionadas acima, a economia em 2023 deverá ter crescimento pífio, coisa de 0,5% do PIB. O desemprego deve voltar a subir. O futuro governo terá que lidar com sérios problemas orçamentários, devido em parte às dificuldades de arrecadar e à pressão de gastos já contratados. Este aumento no desequilíbrio fiscal vai acabar sobrando para o Banco Central e o Tesouro Nacional, uma vez que a dívida pública federal deve aumentar brutalmente pelo custo dos juros nas alturas.
Após o mais bem-sucedido plano de estabilização da economia, o real de 1994, continuamos com quase os mesmos problemas: inflação, endividamento público e baixo crescimento. Os governantes precisam acertar a mão das medidas de estímulo ao crescimento econômico em bases sólidas para gerar bons empregos e fortalecer o setor produtivo. Com a economia crescendo, o setor público consegue equilibrar suas contas e fazer boas políticas públicas de atendimento à população.