A magia da política é ser um jogo de símbolos, em que a expectativa vale tanto quanto a realidade. O diferencial, talvez, seja a fantasia. Ou a ilusão. Nessa quinta-feira (31), aniversário do pesadelo do golpe militar de 1964, Sérgio Moro e João Doria fizeram jogadas de alto risco para ambos, mas que mais adiante podem destravar a empacada terceira via na sucessão presidencial.
A desistência de Moro, com a ressalva de “por enquanto”, por mais delírios que acalante, é definitiva. Não tem volta. Saiu antes de ser saído. Não conseguiu decolar. Já a suposta esperteza de Doria é uma confissão de fracasso. Fez um show de marketing, com alto preço a pagar em suas alianças estaduais, para conseguir uma cartinha de apoio do Bruno Araújo, com seu sorriso amarelo quando Doria o puxou pela mão na declaração que continuava presidenciável.
Mais do que um show de lançamento de Doria, soou como uma rendição à toda costura política em São Paulo em torno de Rodrigo Garcia. Os prefeitos e vereadores presentes foram lá, como mostraram em gritos e saudações, para aderirem ao novo foco de poder. O bastão já havia sido passado. Doria tentou criar uma insustentável narrativa por seu vai e vem.
— Houve um planejamento para que pudéssemos ter aquilo que conseguimos, o apoio explícito do PSDB a partir de seu presidente, Bruno Araújo. A carta que ele assinou hoje não deixa nenhuma dúvida nem agora nem depois. O PSDB elegeu, em processo democrático das prévias, um candidato. Não há questionamento, não há golpe possível.
O que isso vale no mercado da política? Nada vezes nada. A turma de Doria diz que ele conseguiu uma carta relevante para uma batalha judicial se a Convenção Nacional do PSDB optar pela candidatura de Eduardo Leite. Parece piada. Justiça não elege ninguém. O que elege é voto. É justamente nesse quesito que Doria, com o governo bem avaliado, campeão da vacina contra a Covid, segue tropeçando.
A tal terceira via segue órfã. Ciro Gomes à parte, que segue seu caminho próprio, mesmo que solitário, Eduardo Leite e a senadora Simone Tebet se apresentam como candidatos ao vácuo supostamente aberto de Moro e Doria. Se algum deles conseguir se deslanchar vira o candidato a quebrar a polarização entre Lula e Bolsonaro.
A conferir.