A elevação imprevista de 0,75% das taxas de juros nos Estados Unidos para segurar a inflação americana terá consequências sobre a política monetária e cambial do Banco Central (BC) do Brasil. A decisão foi anunciada nesta quarta-feira, 15, pelo FED, o banco central dos EUA.
O Comitê de Política Monetária do BC (COPOM) terá que redefinir sua estratégia até aqui adotada de colocar fim ao atual ciclo de aumento dos juros, o que pode levar a economia a um processo definitivamente recessivo no segundo semestre de 2022, em pleno período eleitoral. Nesta quarta-feira, o BC elevou em 0,50% suas taxas de juros, mas deixou em aberto novo aumento em agosto. O mercado vinha trabalhando com a ideia de que um novo aumento de 0,25% na próxima reunião do Copom seria o fim deste ciclo de aumentos, mas diante à incerteza sobre a nova rodada de juros do FED, a Selic (taxa oficial de juros brasileira) poderá ser maior e exigir novos aumentos.
EUA gripam, Brasil pega pneumonia
O presidente do BC do Brasil, Roberto Campos Neto, e o ministro da Fazenda, Paulo Guedes, trabalhavam com um cenário de fim do ciclo de aumento dos juros nos próximos 40 dias para passar a ideia aos agentes econômicos de que o principal sacrifício de controle da inflação havia passado. Com os preços em queda e a inflação recuando haveria a percepção de aumento do poder de compra dos brasileiros.
O aquecimento do consumo nos Estados Unidos, no entanto, levou o FED a subir as suas taxas de juros para conter uma inflação de 8,6% nos últimos 12 meses. A inflação alta é um indicativo de que mais juros altos vem por aí, contribuindo para um cenário de desaquecimento da economia mundial. O presidente do FED, Jorome Powell, disse que seu compromisso é trazer a inflação dos EUA para 2% ao ano.
Com este e outros aumentos de juros do FED, a moeda americana terá valorização mundo afora, deixando o nosso real mais valorizado. Assim, o fluxo de recursos ao Brasil deve cair. E os preços das mercadorias importadas pelo Brasil vão ficar mais caros. O remédio para tentar segurar os recursos de investidores estrangeiros no Brasil e evitar uma maior fuga de capital é um só: juros maiores por mais alguns meses. O efeito do remédio é um desaquecimento ainda maior sobre nossa economia, com queda de consumo das famílias, desemprego e endividamento.
Se o câmbio é um dos preços que entra na formação dos custos dos nossos produtos e na relação de troca na economia internacional, o aumento das taxas de juros dos Estados Unidos tem poder de desestimular a atividade produtiva lá, e, por tabela, aqui.
As novas taxas de 13,25% de juros básicos no Brasil, uma das mais elevadas do mundo, podem não ser suficientes para controlar os preços, pois seus efeitos de contração monetária ocorrem ao longo do tempo pelo aumento do custo do crédito, capital de giro das empresas e decisão de consumo. O impacto sobre o custo da rolagem da dívida pública, no entanto, é imediato.
Recessão à vista
O ministro da Economia, Paulo Guedes, que dava como certo ter vencido a inflação que hoje acumula 11,73% em 12 meses com os aumentos dos juros feitos pelo Copom até agora. Guedes torcia para que ocorresse uma acomodação dos preços daqui pra frente com o objetivo de ter sinais de uma retomada do crescimento da economia nos próximos meses. O ministro da Economia chegou mesmo a fazer apelo aos dirigentes de supermercados para estes oferecerem alimentos da cesta básica a preços mais em conta. Isso sem falar na redução do ICMS dos combustíveis a fim de obter alguma ajuda pontual de controle de inflação.
Esta mesma inflação em alta nos últimos meses, que mais castiga a população pobre, foi de grande ajuda ao Tesouro Nacional. O governo central conseguiu, entre janeiro a abril, um superávit primário de R$ 28 bilhões em suas contas em função do aumento de arrecadação dos impostos.
Isso ocorreu não em função crescimento da economia, mas devido ao aumento dos preços dos produtos e serviços sobre os quais são aplicados os tributos federais. Como as despesas orçamentárias não são corrigidas pela inflação, houve uma melhora nas contas públicas e muitos economistas acreditam que o governo conseguirá reduzir para zero seu déficit primário que estava prevista em 1%. Do ponto de vista estatístico é um grande feito, se for ignorado que economia deverá terminar 2022 em recessão, inflação em torno 8%, juros nas alturas e, pior, com milhares de desempregados.