O ministro Paulo Guedes está dizendo e explicando nos bastidores que foi mal compreendido quando disse a amigos que iria tirar ima feriazinhas na vidada do ano. O sentido verdadeiro é que ele espera que vão largar do seu pé nesses dias.
O fogo cerrado do noticiário vai se concentrar na questão política, mais especificamente na sucessão da Câmara dos Deputados. Ali, além de uma disputa pelo poder real no País, também se decide como as três equipes que disputarão o triangular final em 2022 entrarão em campo: esquerda, centro-direita e direita ortodoxa. O resultado será quem disputará o segundo turno das eleições presidenciais. Essa é a disputa real. Nem mesmo o presidente tem lugar garantido. Então Guedes terá sua trégua.
Esquerda pode mudar
Embora o noticiário esteja dando que a esquerda, com seus 124 votos, esteja composta com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, para apoiar seu candidato e assim derrotar a aliança do Centrão com o Palácio do Planalto, ainda reverbera a entrevista do ex-ministro José Dirceu sugerindo que antes de 15 de janeiro os partidos da Oposição sistemática não fechem questão. Dizendo que não pertence à direção do PT, nem é consultado, o ex-mandachuva falou a três expressões da mídia esquerdista, os jornalistas Paulo Moreira Leite, Teresa Cruvinel e Marcelo Auler, originários da antiga Libelu, importante corrente petista. Ou seja, muita água vai correr debaixo da ponte.
Fugindo da inflação
Enquanto curte a trégua, o ministro da Economia faz concha no ouvido para os lados da Quadra 3 do Setor Bancário Sul, em Brasília, para escutar o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto: “É mais barato matar o bicho com a vacina do que pagar mais uma rodada do auxílio emergencial”. Aí está. Em economia isto se chama opção. Na linguagem popular, cabe a metáfora de puxar o cobertor para tapar os pés, deixando a cabeça de fora. Pragmaticamente, os economistas veem assim esse dilema.
Politicamente é outra coisa, mas na visão de Guedes e Campos é a solução para evitar os dois monstros peludos que estão de boca aberta na Praça dos Três Poderes: inflação e a pedalada. As duas derrubam governos. Entretanto, parece que o animal está seguro na corda, no entender dos observadores, tanto econômicos como gestores públicos.
Escapar da armadilha
No quesito da armadilha inflacionária, o presidente da República parece vacinado (epa!), tal o exemplo de sua antecessora Dilma Rousseff. Sabe que, se pisar na bola, abre a guarda. Até o momento, o presidente Jair Bolsonaro tem demonstrado que não se deixará seduzir pelo canto da sereia e romper tetos de gastos, passar por cima das responsabilidades fiscais, distribuir bondades além dos recursos do caixa do Tesouro, por mais que essas propostas possam render popularidade e votos, lá em 2022. Quem achar o contrário que procure um retrospecto de como ele agiu ante o momento.
A volta do dragão
O dragão da inflação (como os chargistas gostavam de representar a fera maldita) foi o algoz de todos os presidentes depostos nos últimos 50 anos, para ficar só no limite de meio século. Em tempo: como os acidentes aéreos, várias causas se juntam para os desastres. João Goulart não caiu só pela inflação, pois teve um governo fraco porque sua legitimidade foi turvada por um estelionato eleitoral – o povo votou contra o getulismo, elegendo Jânio Quadros, e o governo que veio era do PTB/PSD, igual do de JK, que perdeu feio com seu candidato marechal Henrique Teixeira Lott.
Quase o mesmo erro de Dilma, que vendeu um tipo de governo e implantou outro, abrindo brecha para perder o pé e se afogar. Mas o que realmente levou o povo às ruas, tanto na “Marcha com Deus Pela Liberdade”, em 1964, e “As Jornadas de 2013”, foi a velha carestia. O mesmo aconteceu com o ex-presidente Fernando Collor, este então derrubado pela política econômica mais desastrada da História do Brasil, desde o “encilhamento” de Campos Salles, no alvorecer da República.
Aliados macabros
Para se segurar, Guedes conta com dois aliados macabros: a recessão será a barreira antiinflacionária mais efetiva, a disciplina fiscal a âncora para não deixar o barco à deriva. O contraponto será o resultado desses dois elementos, pois a pandemia derrubou tanto a economia que, vacinando a população, reabrindo as portas do comércio e dos serviços, mesmo sem voltar aos números do passado, haverá uma sensação de alívio capaz de absorver a debacle da pandemia.
As pesquisas qualitativas já indicam que a população botou a crise econômica na conta do vírus. Quer dizer: Bolsonaro e seu governo não serão tão penalizados eleitoralmente como imaginam certas opiniões. Esta é a porta da entrada para a campanha de 2022, que passa pela eleição da Câmara dos Deputados e pelo confronto dos dois políticos cariocas, Jair Bolsonaro e Rodrigo Maia. O café com leite, São Paulo/Minas está fora dessa. Novos tempos.