Em tempos de Donald Trump, a gafe de Ronald Reagan no Brasil

Regan cumprimenta Figueiredo saudando o presidente da Bolivia. Foto Orlando Brito

Como está em foco a vitória de Donald Trump na eleição para a Casa Branca, nos Estados Unidos, gostaria de relembrar um momento que ficou marcado com uma das grandes gafes das viagens de chefes-de-Estado. O presidente Ronald Reagan visitava o Brasil era recebido por  João Figueiredo no Palácio do Itamarati, em dezembro de 1982.

Um fotógrafo de notícias nunca deixa de dar total atenção àquilo que está cobrindo. Mesmo sabendo que raramente uma visita presidencial produz algum fato fora do programa, ainda mais quando se trata de viagem oficial do presidente norte-americano. A segurança é rígida e o cerimonial é praticamente imutável. Difícil mesmo acontecer algum imprevisto. Ainda assim, imprevistos acontecem.

Aquela vinda de Reagan, desde o seu primeiro dia foi diferente. É verdade que estava dentro da agenda momentos de amenidades, como um passeio a cavalo ao lado do general João Figueiredo na Granja do Torto. A cavalgada foi, porém, considerada de caráter privado e os fotógrafos não tivemos acesso. Porém, ninguém esperava que horas depois – à noite, durante o banquete de honra no Itamarati – Mr. Reagan viesse proporcionar dois momentos inusitados. E desagradáveis.

A primeira surpresa foi citar em seu discurso o slogan da época da linha-dura do regime militar brasileiro, “Pra frente, Brasil”, justo na época em o general Figueiredo pretendia por em curso a redemocratização.

A segunda surpresa viria entrar para história das gafes entre nos encontros presidenciais: na hora do brinde, Ronald Reagan levantou a taça de champanhe “em homenagem ao povo boliviano”.

Ao perceber o equívoco, o presidente americano tentou consertar a situação. Disse que a Bolívia era seu próximo destino. Errou mais uma vez, pois seu roteiro passava longe de La Paz. Era a Colômbia, Costa Rica e Honduras.

Os diplomatas e o pessoal do Palácio Planalto evidentemente não gostaram de ver o Brasil confundido com outro país. Mas, para não aumentar o tamanho do fiasco, menosprezaram o mau momento do presidente americano. O mesmo fez o general Figueiredo, dono de humor ácido, franqueza reconhecida e que jamais escondia seu descontentamento quando algo o irritava.

Nos oito anos em que ocupou a Casa Branca, Ronald Reagan produziu situações igualmente desconcertantes. Ninguém podia esperar que um homem tão experiente e político veterano como Reagan, fosse proporcionar uma situação tão indevida.

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