Brasil ignora Argentina no discurso do novo chanceler

Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Tensão no Cone Sul? Dia 16 o presidente Mauricio Macri virá ao Brasil apertar a mão de Jair Bolsonaro. Então poderá esclarecer-se em profundidade sobre o que se passa realmente nas relações entre o Brasil e seu vizinho mais próximo e principal parceiro comercial. A Argentina é o maior importador de produtos industrializados do Brasil, ou seja, é geradora de empregos internos no País.

O outro grande freguês, a China, é compradora de commodities agrícolas, ou seja, a mais importante geradora de divisas para o caixa do Banco Central. A diplomacia brasileira está fustigando esses dois clientes.

Conflitos sulistas

O Cone Sul já foi a sub-região mais conflitiva da América do Sul desde que os bandeirantes paulistas, desobedecendo as ordens de Lisboa, rasgaram o Tratado de Tordesilhas, no Século XVII. E assim veio, ora mais quente, ora menos, até os últimos embates sobre o posicionamento e tamanho das barragens no rio Paraná, Itaipu e Corpus, nos anos 1970.

Agora volta a aumentar a temperatura. Pela primeira vez, desde a invenção do avião a jato, que um presidente da Argentina não comparece à posse de seu colega brasileiro.

Cadeira vazia

Presidente da Argentina, Mauricio Macri. Foto Orlando Brito

Chamou atenção no salão de honra do Itamaraty a cadeira vazia de Mauricio Macri. O novo presidente brasileiro não fez essa desfeita a seu contraparte argentino só para vingar a eliminação do seu Palmeiras pelo Boca Juniors. (Macri foi o presidente que relançou o Boca, e por aí fez sua carreira política). Também não foi por esquecimento que o novo ministro do Exterior, Ernesto Araújo, não citou uma única vez, em seu discurso de posse, o nome do país vizinho.

Araújo também não falou de outros dois fregueses de produtos do agronegócio brasileiro, China e Oriente Médio. No oeste de Santa Catarina e noroeste gaúcho, as grandes regiões produtoras de aves do mundo, os colonos estão abismados com a possibilidade real de restrições tributárias ou de volume por parte dos mercados árabes.

Coisas do comércio internacional. Quando um fornecedor perde competitividade, logo outro toma seu lugar.

No caso argentino, o temor dos industriais exportadores brasileiros é que o Mercosul vá para o vinagre. Ou seja, que o Brasil esterilize o acordo regional, tirando seu conteúdo político do bloco.

Esse fato teria repercussões no comércio intraregional. Por isto tanto se falou da vinda ao Brasil dos presidentes dos demais sócios do Mercosul (Paraguai e Uruguai) e agregados (Chile e Bolívia são associados).

Desconvidados

Já a questão do “desconvite” aos três países que repudiaram oficialmente o ato do Congresso brasileiro que depôs a presidente Dilma Rousseff, não tem consequências imediatas. Cuba e Venezuela devem muito dinheiro ao BNDES. Nicarágua é um parceiro distante.

Na área de comércio, de compra a venda, não deve haver retaliações. Na área política, esses países já estavam em retórica hostil ao Brasil e retirando seus embaixadores de Brasília.

A Venezuela é um caso a pensar, pois o presidente Nicolás Maduro elegeu o Brasil como “inimigo externo” e já está convidando o vice-presidente Hamilton Mourão (que já foi adido militar em Caracas) para uma briga de socos (“que venha desarmado”, disse o mandatário venezuelano).

O perigo é alguma provocação, do tipo prisão de um brasileiro destacado (empresário ou funcionário), acusando-o de espionagem, por exemplo, criando uma saia justa e dando motivo para a mídia brasileira vociferar. Seria bom convocar o Barão do Rio Branco.

Deixe seu comentário