Muito se tem falado sobre notícias falsas. Pouca coisa, porém, foi comprovada com método e pesquisa.
Antes, é preciso registrar que notícias falsas (chamadas de “fake news” pela imprensa brasiliana), mentiras, boatos, rumores não são novidade. São velhas estratégias na política, nos negócios e na relação entre as pessoas.
A novidade é que, agora, elas viajam à velocidade das redes sociais e do WhatsApp. Além disso, atingem escalas vultosas, de milhões de pessoas.
A partir daí, entramos numa zona cinzenta. Para discernir cores nesta névoa de falsidades é preciso fazer as perguntas certas.
Quem produz as notícias falsas? Quem as lê? Quem acredita nelas? Qual o poder que têm de alterar uma crença, uma percepção ou uma certeza? Ou um voto?
Leitor/eleitor, não há resposta definitiva a estas perguntas. Mesmo assim, jornais, academia, juízes, procuradores e candidatos tratam do tema como se o poder deletério das mentiras disseminadas fosse devastador.
Frenesi eleitoral
Nesta segunda, 22, o professor Marcus André Melo, em artigo na Folha de S. Paulo, citou três estudos sobre o tema. Um foi publicado na revista Science por 16 pesquisadores.
Outros dois foram produzidos pelas universidades de Chicago, de Nova Iorque e Stanford. Um deles capitaneado por um professor do MIT (Massachusetts Institute of Technology).
De maneira geral, os pesquisadores concordam que é “complexa a tarefa de identificar” a influência das notícias falsas. Porém, é possível concluir que “notícias falsas produzem polarização, mas não alteram o voto de forma significativa”.
A apertada vitória de Donald Trump, em 2016, foi alvo das pesquisas, mas não foi constatada influência decisiva. Lembre-se que Hillary Clinton, que perdeu a eleição, teve mais votos que Trump; nada parecido com o que se desenha no Brasil nesse segundo turno.
“As pessoas não gostam
de ser desmentidas.
Por isto, se expõem mais
às notícias que lhes interessam.”
No Brasil, até onde se tem notícia, não há estudo semelhante. No entanto, paira no ar uma certeza de que o resultado das urnas está sendo alterado pela enxurrada de bobagens que chegam aos celulares dos eleitores.
Em momentos de polarização como o que vivenciamos hoje no País é normal a exacerbação dos ânimos dos eleitores. No entanto, professores, analistas, autoridades e jornalistas deveriam se manter equidistantes do frenesi eleitoral.
Enquanto alguns se exaltam, alguém tem de pensar. Ou, então, acreditar que a estupidez geral na Nação é tamanha que impregnou a maioria dos eleitores, crédulos de tudo que leem.
Crenças arraigadas
As pessoas não gostam de ser desmentidas. Também não gostam de desacreditar em suas crenças, percepções ou certezas.
Por outro lado, todos somos receptivos à informação que confirme nossas “verdades” e nossas preferências. Bons oradores conseguem aplausos dizendo o que a plateia quer ouvir em vez de contestá-la.
De maneira geral, as pessoas se expõem mais às notícias que lhes interessam. Ao mesmo tempo, buscam informações que confirmem o que já acreditam e que vão ao encontro do que desejam ou de suas inclinações.
Isto não significa que quem for flagrado produzindo e propagando mentiras deve ser inocentado. Se é criminoso, condene-se.
Igualmente não quer dizer que os candidatos não mintam para conquistar eleitores. A demagogia é inerente à política.
Também não desmente que notícias falsas tenham influência. Mas, pelo que se pesquisou até aqui, não representam elemento determinante.
Sobretudo em relação aos pleitos majoritários, onde a confrontação de informações é extensa – pelos adversários e pela mídia profissional. Afinal, as pessoas costumam votar em quem melhor espelhe suas próprias crenças, percepções e certezas.
É possível chegar a conclusão diversa. Mas antes é preciso buscar informação, com método e pesquisa.
Enquanto isto, ajudaria bastante se os votantes aprendessem a desconfiar do que veem nas telas de seus celulares. E, na dúvida, buscassem o jornalismo profissional para confrontar as notícias lidas.