80 milhões de eleitores irados meteram o Brasil nessa sinuca

No último da 7 de outubro, 80,6 milhões de eleitores foram às urnas com ira. Boa parte deles, mais do que votar pelo seu candidato estimado, votou contra o adversário odiado.

Este contingente, equivalente à população da Alemanha, legou aos demais brasileiros uma espécie de escolha de Sofia. No próximo dia 28 de outubro, não se vai escolher o melhor, mas o menor pior.

Certo, trata-se de um direito. Os 80 milhões de eleitores irados são 54,72% do total. Ou, visto por outra abordagem, 75,31% dos votos válidos (eleitores que escolheram algum candidato).

Não muda o fato, porém, de que o restante será influenciado pelos brasileiros que estão com raiva. Para quem acha que a ira é boa conselheira, sem problemas.

Mas a escolha dos raivosos certamente não foi por falta de opções. Senão, vejamos.

Centro esquecido

Havia 6 candidatos que oscilavam entre as chamadas centro-esquerda e centro-direita. Ciro Gomes, Geraldo Alckmin, João Amoêdo, Henrique Meirelles, Marina Silva e Alvaro Dias obtiveram juntos 24,33 milhões de votos (16,51% dos eleitores ou 22,73% dos válidos).

O supernanico Cabo Daciolo conquistou 1,26% dos válidos. Outros 4 nanicos (Guilherme Boulos, Vera Lúcia, Eymael & Goulart Filho) somaram juntos 0,7% dos válidos.

Diante do desfecho polarizado, um analista exibiria otimismo irônico. “Poderia ter sido pior se escolhêssemos os inconsequentes Boulos ou Vera Lúcia; ou o escalafobético Cabo Daciolo”, diria o sarcástico observador.

Da lista centrista acima, tirante Amoêdo, todos tinham experiência na administração pública. Era possível, assim, antever como seriam seus governos.

“Para quem acha que
a ira é boa conselheira,
sem problemas.”

Mas não foi esta a legítima opção da maioria, leitor/eleitor. 80 milhões de brasileiros querem se livrar de candidatos indesejados – um pelo que seu partido já fez (PT), outro pelo poderá fazer (Bolsonaro).

No caso dos bolsonaristas, livrar-se do PT e o que ele representa. Desemprego, inflação, corrupção, violência & fundamentalismo político, além da ameaça aos costumes e valores tradicionais.

No caso dos petistas, livrar-se de Bolsonaro e o que ele personifica. O machismo, a misoginia, a homofobia, a tortura e o militarismo, além do fortalecimento dos costumes e valores tradicionais.

Razão e temperança

Ressalve-se que a ira dos petistas é mais ampla. Pois, pela cartilha do PT, o Brasil é divido em dois grupos: os companheiros e os fascistas.

Companheiro é quem professa cegamente a ideia Lula. Fascista é quem discorda das ideias de Lula.

A maioria desta turba não sabe o que é fascismo. Repetem a expressão como um esconjuro ao que não conhece, mas tem medo. Vade retro, se você não pensa como eu!, bradam.

Enfim, pela vontade da maioria marcharemos dia 28 de outubro rumo a 454.490 seções eleitorais para sufragar o que não queremos. 80,6 milhões, por coerência, deverão ratificar o voto irado do primeiro turno.

Os demais 66,7 milhões terão que dançar conforme as músicas que restaram na vitrola eleitoral. Será como se o público tivesse que escolher entre um show de música sertaneja ou heavy metal.

Não há escolha boa. Música clássica, jazz ou MPB? Nem pensar.

Menos pior,  o que a urna nega abunda no talento musical brasiliano. Tão esquecido quanto a temperança e a razão.

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