Se, ao que tudo indica, as grossas acusações contra o presidente Michel Temer por parte de Joesley Batista, um dos donos da JBS, se confirmarem, o Brasil terá duas opções ao eventual afastamento do mandatário. Uma é rápida, outra é lenta. Além de lenta, a segunda pode ser bem mais traumática.
Aplicada a Constituição (artigo 81), a saída do presidente da República (por renúncia, impeachment ou pela cassação da chapa Dilma-Temer) redundará em eleições indiretas. O Congresso Nacional (Câmara e Senado) terá 30 dias para escolher um substituto que exercerá o mandato presidencial até o final de 2018.
A outra opção, aventada pela oposição e que começa a ganhar as ruas, não está prevista na Lei Máxima brasileira. Trata-se de antecipar as eleições gerais programadas para outubro do ano que vem.
Num País convulsionado, fustigado pela Operação Lava-Jato e cada vez mais antagonizado por grupos que não se falam, apenas se insultam, implicará uma longa e temerária janela até que o novo governo se instale. Primeiro, mudar a Constituição. Depois, organizar eleições extemporâneas. Por fim, enfrentar um pleito com viés incendiário.
A economia, que começa a dar sinais de recuperação (inflação e juros em queda, criação de empregos, retorno dos investimentos), voltaria à estagnação. De duração imprevisível, este período provocaria tensão permanente. Ruas mais convulsionadas poderiam se tornar rotina, pois as eleições se dariam num ambiente de hostilidade ímpar a lembrar tempos sombrios de nossa história.
Adotada a forma prevista na Constituição de 1988, restaria às lideranças sóbrias da sociedade e dos poderes constituídos convergir para um nome distante de todos os envolvidos em malfeitos, ou seja, quase a totalidade do Legislativo. Um tertius disposto a conduzir com temperança a travessia da pinguela em que nos encontramos, sem aventuras nem invenciones, buscando o apaziguamento e o consenso possível.
Não é fácil conter as ruas, tampouco delas exigir serenidade ou sobriedade. Estes atributos, porém, serão doravante indispensáveis para quem almejar a volta da normalidade e a preservação da democracia. O exemplo terá que vir de cima, antes que a pinguela desabe.