Eventos ecléticos como o Brazil Conference, em Harvard, são por si só interessantes por reunir um mosaico diversificado de posições e personagens da política brasileira – algo raro nesses tempos de radicalização. A conferência deste fim de semana foi além. Os ecos de Boston já estão reverberando aqui, na Lava Jato, depois das palestras da ex-presidente Dilma Rousseff e do juiz Sérgio Moro.
Em campos opostos, os dois não chegaram a se encontrar, mas foram as principais atrações do evento ao expor as emoções dos próximos capítulos desta saga:
1. A ex-presidente deixou transparecer a enorme apreensão do PT com o destino do ex-presidente Lula na Lava Jato. Os petistas divergem quanto à conveniência de expressar o temor de que Lula seja preso da maneira desabrida com que Dilma o fez. Mas os companheiros só pensam nisso, embora acreditem que a hipótese de prisão seja remota. Para alguns, a estratégia de Dilma está certa e é a hora de botar a boca no trombone. Quando chamam a atenção para a possibilidade de o ex-presidente ser preso, estão, na verdade, mirando o risco de Lula – que certamente será condenado por Moro – ficar inelegivel. Isso só ocorreria após uma condenação em segunda instância, que pelos caminhos normais do Judiciário dificilmente seria dada a tempo de impedir sua participação em 2018. Mas já ficou claro que seus acusadores de Curitiba têm pressa. Por isso, antes mesmo da condenação, o PT e seus aliados trabalham para criar um ambiente contrário à retirada de Lula da disputa pela Justiça, um clima de que a pressa em condená-lo para excluí-lo da eleição presidencial seja vista como um atendado à democracia. É isso que, basicamente, Dilma foi fazer em Harvard.
2. O juiz Sérgio Moro também esteve em missão na Brazil Conference – e também destinada a influir na batalha da Lava Jato. Ao afirmar, com firmeza e sem meias palavras, que caixa 2 é um crime tão grave, ou até pior do que o de corrupção, Moro tenta dar nó na articulação dos políticos para tentar escapar da cadeia e de condenações meiores pela via do caixa 2. Se vai conseguir, ninguém sabe, já que a estratégia avança a passos largos. Mas o juiz recorre, mais uma vez, à força da opinião pública, que até agora não lhe faltou, para tentar constranger o Congresso e o STF a não apoiar essa solução.
Esta semana, provavelmente a última antes da suspensão do sigilo das delações da Odebrecht, a aparente calma dos feriados da Páscoa vai encobrir uma movimentação frenética nos dois lados.