O dilema dos políticos diante do espelho

Deputado Rubens Bueno. Foto Orlando Brito

Conversar com políticos experientes sempre foi um bom termômetro para medir a temperatura e pegar o pulso na Câmara e no Senado. É bom ouvir também a turma nova. Até para identificar os que têm talento para um dia virar referência.

Na atual crise política, quando mais se ouve ali menos se entende. O efeito biruta de aeroporto entre as Excelências é causado pela imprevisibilidade da tempestade ou do furacão da Lava Jato.

Ninguém sabe o tamanho do tsunami que se avizinha.

Há um desejo de uma solução milagrosa que, se não salve a todos, preserve a maioria. Pelo menos da cadeia.

A questão é qual a alquimia necessária para essa poção mágica. Nem velhos pajés, como José Sarney e Jader Barbalho, e os ilusionistas Romero Jucá e Renan Calheiros, conseguem uma fórmula aceitável para seus pares.

Até bolam alternativas sedutoras a deputados e a senadores. O problema é que todas elas tropeçam na Lava Jato e na ojeriza da população a magias que preservem o modelo corrupto de fazer política no Brasil.

Daí esse zigue-zague que alimenta o noticiário político, mas não chega a lugar nenhum. Pode até parecer, mas o dado fundamental nem é a nossa incompetência em traduzir o que nós, jornalistas, assistimos em tempo real.

A confusão é generalizada.

Segue uma pequena amostra do que rola entre os políticos mais experientes. Na tarde de quarta-feira (5), no Cafezinho dos Deputados, alguns jornalistas, também bem rodados, queriam saber se há alguma reforma política factível até a data fatal de 2 de outubro.

De maneira informal, vários deputados deram sua opinião. Alguns até que mantêm o saudável hábito de conversar entre si, como Miro Teixeira, Heráclito Fortes, Rubens Bueno, Benito Gama…

Heráclito Fortes

Cada um, no entanto, tem uma reforma política diferente na cabeça e avaliação oposta sobre a tendência de seus colegas.

Miro Teixeira, por exemplo, diz que não há a menor possibilidade de aprovação do tal voto em lista nas eleições para a Câmara e menos ainda da criação de um fundo público de financiamento eleitoral. “Quem está aqui sente a rejeição das ruas a essas saídas desesperadas”, crava Miro Teixeira. “Pode esquecer”.

Rubens Bueno, parceiro de Miro em tertúlias na Câmara e em bons restaurantes de Brasília, faz uma avaliação bem diferente. “Cresce aqui a aprovação do voto em lista e do financiamento público. Parecem ruins, realmente não são bons, mas são melhores do que até agora esteve aí”.

A política é assim.

Ainda mais quando ninguém consegue sentir, em um vendaval difícil de identificar direção e rumo, até aonde o vento vai soprar.

Como ensinou o mestre Bob Dylan, é por aí que pode haver respostas.

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