Protestos anti-reforma assustam governo e Congresso

Manifestação em Brasília. Foto Renato Alves

Foi maior, muito maior do que imaginavam o governo e a própria oposição o movimento que paralisou transportes e escolas Brasil afora e culminou em manifestações nas principais capitais, destacando-se a reocupação da Paulista pelas forças vermelhas em São Paulo. Haverá, com certeza, guerra de versões em que os organizadores tentarão inflar os números e os governistas irão minimizar seu tamanho. Bobagem. O principal, a esta altura, é avaliar o impacto do 15 de março. É o que todo mundo, inclusive alguns interlocutores de Michel Temer, está fazendo.

Até a mídia, que vem mantendo firme apoio às reformas que o movimento de hoje quer derrubar, abriu espaço para transmissões e flashes ao vivo à medida em que o movimento foi engrossando, à tarde, depois dos incômodos com o trânsito e o fechamento de ruas e escolas pela manhã.


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Não há dúvidas de que as manifestações foram significativas e vão repercutir, com a possibilidade de dois efeitos imediatos: 1) O temido (pelo governo) efeito cascata, desencadeando outros protestos. Hoje, mobilizaram-se claramente em torno da rejeição à reforma da Previdência, mas o “fora Temer” esteve presente e tornou-se audível em diversos momentos mostrados ao vivo. Para os aliados do presidente, há um risco real nisso.

2) O efeito Congresso. A maior preocupação governista hoje é com o impacto das manifestações junto a quem vai votar a reforma da Previdência. Por mais que a base de Temer seja forte e fiel, parlamentares costumam ser extremamente sensíveis às ruas, sobretudo em anos pré-eleitorais. Se, conforme já admitiam aliados do Planalto, o governo ainda não havia garantido a maioria de 308 votos na Câmara para a sua PEC, agora é que vai ficar mais difícil.

A coincidência dos protestos com o momento em que o Planalto e sua base de sustentação, tendo à frente o PMDB e o PSDB, se fragilizam com a divulgação da Lista de Janot versão 2.0, também é ruim para o governo. Por isso, já há quem veja a possibilidade de o Planalto, finalmente, sair do discurso do tudo ou nada e se sentar para negociar mudanças importantes no projeto.

O importante para a governabilidade, a esta altura, é fazer passar alguma reforma, ainda que seja “modestíssima” – palavra usada hoje pelo presidente, possivelmente antes de se inteirar das dimensões do movimento nas ruas.

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