Se sobreviver à votação do dia 2 de agosto, ou conseguir adiá-la indefinidamente – o que é possível num quadro de fragilidade geral em que ninguém tem maioria -, o governo Temer terá uma nova configuração política. Será o governo do Centrão, sustentado pela soma do PMDB com a sopa de letras formada por PP, PR, PSD, PTB, PRB, SD e outros menores, um grupo criado e nutrido pelo ex-deputado Eduardo Cunha – segundo as más línguas, à sua imagem e semelhança.
Esse parece ser o principal saldo político do resultado da votação da CCJ. Os partidos que garantiram a vitória do Planalto na comissão somam pouco mais de 200 deputados em plenário, sem contar o DEM, partido do semi-candidato Rodrigo Maia que vem mantendo as aparências ao lado de Temer, e o PSDB, que se dividiu. A divisão dos tucanos, porém, tem viés de desembarque na Câmara. Na CCJ, cinco dos sete membros do partido votaram contra Temer, liberados pelo líder.
Talvez por isso, o Planalto tenha resolvido investir na divisão dos tucanos, chamando o deputado Paulo Abi-Ackel, um aecista que ainda defende o apoio ao governo, para relatar o parecer que rejeita a denúncia contra Michel Temer. Como pressão máxima, está espalhando que vai tirar do PSDB, para dar ao Centrão, ministérios como o das Cidades e a Secretaria de Governo.
No limite, com essa atitude Temer pode forçar o desembarque do PSDB de seu governo, amealhando algumas dissidências para ajudar a derrotar o parecer no plenário, seja no dia 2 de agosto ou mais adiante. O certo é que, ainda que sobreviva com sua nova base, esta será insuficiente para aprovar reformas e pouco confiável aos setores ligados ao PIB e ao mercado que têm sido sustentáculos do governo. De onde se conclui que o governo caminha mesmo para o fim – se não de direito, de fato.