Nervosismo na tarde brasileira e na madrugada chinesa com a revelação, pelo repórter Jailton de Carvalho, em O Globo, de que o doleiro Lúcio Funaro confirmou em sua delação premiada que, sim, recebeu dinheiro de Joesley Batista para ficar calado. Com isso, ele confirma a delação de Joesley e a acusação de que o presidente Michel Temer sabia dos pagamentos. Tecnicamente, este seria, se confirmado, o elemento que faltava para processar Temer por obstrução de Justiça no exercício do cargo.
Justifica-se, portanto, o nervosismo dos governistas. Eles tinham esperanças de que Funaro, como se ventilava até ontem, iria entregar uma série de ilícitos ligados ao PMDB da Câmara, incluindo aí Michel e seus companheiros, mas todas as acusações se referindo a períodos anteriores à posse definitiva do presidente.
A informação de que não, e que Funaro estaria dando ao procurador Rodrigo Janot a flecha de prata para a segunda denúncia contra Temer, assustou igualmente quem está no Planalto e quem está na China.
Isso quer dizer que Michel Temer está perdido? Não. Sem o argumento técnico, o governo possivelmente terá que trabalhar mais – e gastar mais, e ceder mais – para derrubar a segunda denúncia no plenário da Câmara. Mas as condições objetivas de temperatura e pressão nas elites políticas e no establishment econômico, que controlam o Congresso, continuam as mesmas: acham que não vale a pena tirar Michel agora.
Tudo indica que nem a flecha de prata vai matar Temer.