Não se pode dizer, como Fernando Henrique dizia antigamente em relação a José Sarney, que a crise viajou. Ela ficou aqui, rendendo a cada dia capítulos mais fortes da investigação da Lava Jato e assemelhadas. Mas a crise é onipresente, e também viajou, pois foi na bagagem do presidente Michel Temer na anódina visita oficial à Russia e na desastrosa ida à Noruega.
Agora mesmo, antes de tomar o avião de volta, Temer passou pelo constrangimento de ouvir o “Fora Temer” em norueguês e ver a primeira ministra norueguesa falar com a imprensa de sua preocupação com a Lava Jato e do mau comportamento brasileiro em relação ao desmatamento da Amazônia. Na véspera, primeiro dia da visita, a comitiva brasileira foi brindada com o anúncio de corte de metade dos recursos noruegueses para o Fundo Amazônia – um castigo pelo mau comportamento. Nas imagens de Oslo divulgadas agora pela manhã – tarde na Noruega -, vemos um Michel Temer com semblante fechado, extremamente constrangido, ao lado da primeira-ministra Erna Solberg, que não poupou críticas à corrupção no Brasil.
Nem de longe, porém, esse terá sido o pior infortúnio presidencial da semana. Quando aterrissar em Brasília, Temer encontrará uma situação pior do que a que deixou na segunda-feira, quando partiu esperançoso de que daria um sinal de normalidade e trégua na crise. Em sua ausência, foi derrotado no STF, que não só manteve Edson Fachin na relatoria da delação premiada da Odebrecht como decidiu mantê-la nos temos em que havia sido celebrada com Joesley Batista. Pior para o presidente, Fachin sentiu-se seguro para mandar o primeiro relatório da PF ao PGR Rodrigo Janot, que terá cinco dias, até terça-feira, para apresentar sua denúncia contra ele por corrupção passiva.
Também foi um revés a notícia de que Janot vai fatiar sua denúncia, pelo menos em três, o que obrigaria o Planalto a passar por três vezes pelo teste do plenário da Câmara, onde tem que ter votos ou ausências de 172 deputados para arquivar a denúncia e evitar um afastamento.
A outra notícia ruim para Temer foi o primeiro sinal de dificuldades para aprovação da reforma trabalhista no Senado, com a votação na CAS. Começou um efeito debandada na Câmara Alta. Sem falar na tendência a cada dia maior de desembarque do PSDB do governo. Há quem diga que teria sido melhor para Michel Temer ter ficado por aqui, tentando conter a sangria e escapando aos micos que passou por lá.