Moreira Franco não é propriamente popular entre os principais caciques do PMDB. Mas é um dos homens de confiança do presidente interino Michel Temer. O que ele diz em algumas polêmicas declarações à imprensa às vezes desagrada a seu partido, mas é sempre interpretado como um recado do próprio Temer.
A badalada entrevista de Moreira Franco ao Estadão, em que atribuiu as críticas tucanas ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, a manipulações eleitorais, foi lida como uma bola dividida entre o governo e o PSDB. Leitura correta. Mas foi mais do que isso.
Moreira Franco falou, também, pelos caciques do PMDB. Eles avaliam que era hora de dar uma chega para lá no PSDB. “O Michel já assumiu claramente o compromisso de não se candidatar à reeleição. Agora, os tucanos, que sequer se entendem entre eles, não podem exigir que o PMDB não tenha candidato”, diz um deles.
Ontem à noite, Michel Temer foi anfitrião de um jantar no Palácio do Jaburu com a cúpula tucana. Além do chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, estava presente Moreira Franco. Depois da reunião, o senador Aécio Neves deu um troco em Moreira: “O candidato pode ser Temer ou Meirelles. O que não pode é ter uma agenda eleitoral que se sobreponha a agenda de salvação nacional”.
Durante o jantar, Aécio Neves, como Tales Faria registrou em Os Divergentes, e outros tucanos fizeram cobranças de um compromisso efetivo de Temer com medidas duras em um rigoroso ajuste fiscal. Temer os acalmou afirmando que tudo será diferente depois que assumir o governo de forma definitiva. Justificou o pacote de bondades com o funcionalismo público como necessidade política de momento. E se comprometeu a explicitar o compromisso com o ajuste fiscal em pronunciamento à Nação após o impeachment de Dilma Rousseff.
Os tucanos reclamaram também das críticas de Moreira Franco. Temer e seus auxiliares puseram panos quentes. Mas o PMDB, apesar dos rapapés com os tucanos, não arreda pé do recado dado. De acordo com líderes do partido, a entrevista de Moreira teve, também, o propósito de dar um toque nos tucanos para não se assanharem com batatas assadas tiradas da brasa por mãos peemedebistas. “Claro que é preciso colocar a casa em ordem, com medidas duras de ajuste fiscal, e também outras para estimular a retomada do crescimento”, reconhece um cacique do partido.
Mas, ele faz uma ressalva: “Não dá, no entanto, para os tucanos exigirem que a gente pegue pesado na arrumação da casa com a obrigação de entrega-la nos trinques para o usufruto exclusivo deles”.
Quer dizer, a paz foi restabelecida, mas a desconfiança mútua persiste.