O tom pausado de José Dirceu, no badalado vídeo gravado para o Nocaute, blog do Fernando Morais, parece contrastar com sua pregação, aparentemente incendiária, contra os juízes que vão julgar Lula, em segunda instância, dia 24 em Porto Alegre.
No tal vídeo, há até uma ponderação sensata contra a tresloucada ideia — delírio comum de Gilmar Mendes e Michel Temer — de adotar, a toque de caixa, um semipresidencialismo de ocasião, tentativa tosca de driblar a rejeição, por dois plebiscitos, do parlamentarismo.
Nos ataques a investigadores e juízes, José Dirceu, como sempre, faz de conta que os escândalos escancarados pela Lava Jato e por outras investigações ocorreram em alguma outra galáxia. Muito distante do planeta petista, e do enriquecimento de estrelas como ele próprio, Antonio Palocci e Lula — todos na mira da Justiça.
Ao chamar juízes de golpistas, acusá-los de conspiração, entre outros impropérios, mais do que repetir o blábláblá engajado das redes sociais, Dirceu tenta ser protagonista em dois papéis no mesmo enredo.
Dirceu já foi condenado, em segunda instância, pelos desembargadores federais de Porto Alegre, a cumprir pena de mais de 30 anos por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Pelas atuais regras do jogo, se o ministro Gilmar Mendes não virar a mesa no STF, sabe que logo vai voltar para a cadeia para uma longa estadia como cúmplice e beneficiário de roubo de dinheiro público.
Como o PT, Dirceu gostaria de se ver melhor no espelho. Depois de tantos sonhos e delírios, sair de cena como ladrão é puro pesadelo.
Nesse desespero, ele busca reduzir o estrago.
Ao se tornar porta-voz da pregação de insurgência, com revolta e fúria, a futuras decisões judiciais contra Lula, mais do que um espasmo do velho combatente, Dirceu tenta grudar seu caso ao de Lula.
Por mais que Lula também esteja encrencado por causa de sítio, triplex, palestras e outras benesses a que responde na Justiça, Dirceu só tem a ganhar nesse abraço com quem mantem elevada popularidade.
Nem a tornozeleira o inibe. Ele parece querer mais. Seus pesados ataques ao juiz Sérgio Moro, que o condenou, e aos desembargadores do TRF-4, que confirmaram e ampliaram sua pena, tem sido interpretados de maneira diferente.
Uns os consideram como uma maneira de marcar posição. Outros avaliam que ele avança o sinal na expectativa de uma punição por algum tipo de desacato às autoridades judiciais.
Trocando em miúdos. Como sabe que não vai escapar de punição por receber propinas, Zé Dirceu estaria tentando trocar o carimbo de corrupto por algo parecido como crime político.
A conferir.