Fachin dá um nó na estratégia para manter Palocci calado

Ministro Edson Fachin - Foto Orlando Brito

Quem comemorou o “voto histórico” de Gilmar Mendes mandando soltar José Dirceu pode ter festejado antes da hora. Mais do que beneficiar Dirceu — candidato a voltar para a cadeia tão logo seu recurso contra a condenação de Sérgio Moro seja julgado no Tribunal Regional Federal da 4ª Região –, a decisão poderia evitar uma bombástica delação de Antonio Palocci.

A aposta de que Palocci e João Vaccari Neto também possam sair da prisão é a confiança de petistas e aliados nos votos da maioria formada na 2ª Turma do STF por Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski. Seria um alívio para Lula e todos os petistas enroscados na Lava Jato.

No final do ano passado, esse mesmo trio foi a esperança para livrar Eduardo Cunha de uma cela no Complexo Médico-Penal, em Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. Apesar de nenhum deles morrer de amor pelo ex-presidente da Câmara, parecia certo que acatariam a reclamação de Cunha contra sua prisão.

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A decisão do STF atenderia aos anseios do Palácio do Planalto, onde os inquilinos Michel Temer e seus ministros mais chegados estavam preocupados com as ameaças de Cunha. A soltura era o preço cobrado por Eduardo Cunha para ficar calado, sem delatar ninguém.

O plano naufragou porque Teori Zavascki, ao tomar conhecimento do jogo jogado, transferiu a votação para o plenário do Supremo, onde Cunha tem sido sistematicamente derrotado. Depois de Teori morrer em acidente aéreo, a reclamação foi rejeitada pelo plenário. Cunha continua preso.

Dessa vez, foi o ministro Edison Fachin quem pôs água no chopp dos que já davam como certa a libertação de Palocci. A exemplo de Teori, ele transferiu a decisão para o plenário do STF. Ali, o jogo é diferente e o placar incerto.

Horas antes desse anúncio de Fachin, o advogado Adriano Brettas, especializado em delação premiada, informou que estava deixando a defesa de Palocci. Não justificou sua saída. Em Brasília, ela foi interpretada como um recuo de Palocci em contar tudo o que sabe sobre corrupção, material para “mais um ano de investigação da Lava Jato”.

Se foi mesmo isso, no mínimo ele se precipitou. Corre o risco de ter sua temporada esticada em Curitiba, sem ter a quem recorrer, o plenário é a última instância do Supremo.

Em Curitiba, a Lava Jato continua de vento em popa. Já em Brasília parece ter entrado em modo gangorra.

A conferir.

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