“Se uma imagem vale mais que mil palavras, então diga isso com uma imagem”, desafiou Millôr Fernandes, um dos maiores mestres com as palavras na língua portuguesa. A imagem gravada em vídeo do desespero do segurança americano George Floyd, um homem negro com passado de atleta, algemado, imobilizado, suplicando porque não conseguia respirar sob a pressão do joelho do policial branco Derek Chauvin em seu pescoço, virou um símbolo de várias tragédias mundiais simultâneas.
O cruel assassinato de Floyd é a expressão de que antigos vírus da escravidão por raça e desigualdade social, costumeiros aqui, não perdem força em lugar algum nem durante o estrago planeta afora do novo coronavírus. Mata como o Covid-19 com o mesmo sufoco da respiração. Ninguém merece morrer assim.
Nem as pessoas e nem as democracias. As manifestações nos Estados Unidos e no Brasil estão detonando as regras de distanciamento social impostas pela pandemia. Lá já foram pro ar. Aqui, estão a caminho. Estimuladas por Jair Bolsonaro. Grupelhos como o que encenou a manifestação imitando a ku Klux Klan ( outro mau exemplo americano) no sábado à noite em frente ao STF, com arremedos até de tochas e máscaras, amplia a irritação de quem ainda permanece em casa.
Bolsonaro e sua trupe dizem que chegou ao limite o controle constitucional do governo por outros poderes. O presidente lidera por helicóptero e até cavalo manifestações contra a democracia. Aproveita seus fins de semanas para cortejar quartéis do Exército e da PM país afora. Espera com isso ganhar um passaporte para governar sem qualquer controle do Congresso e do Supremo Tribunal Federal. E até sem qualquer fiscalização da imprensa e de todos os órgãos de apuração do Estado.
Ele e seus seguidores se acham fortes nesse momento em que grande parte da população continua em casa por respeito às orientações médicas. Avaliar que isso é uma rendição é pura ilusão. A surpreendente reação de torcidas de futebol é apenas uma amostra. A contida indignação da grande maioria do país com o desprezo de Bolsonaro com a pandemia e a democracia está a uma faísca de explodir e acabar com esse delírio.
A conferir.