A manhã da quinta-feira começou com um trator de esteira levando de roldão toda e qualquer resistência à anistia ao caixa 2 e a outras propostas para enquadrar investigadores e juízes e barrar operações como a Lava Jato.
Os grandes partidos rasgaram a fantasia. PSDB, PT, PMDB, PP, PDT, PSD e todas as grandes e médias legendas haviam decidido, na madrugada, atropelar os que se opunham ao liberou geral e liquidar a fatura na Câmara e, talvez, no Senado nessa mesma quinta-feira.
No meio da tarde, Rodrigo Maia, comandante em chefe dessa armada, de repente pisou no freio. Os mais ingênuos atribuíram essa mudança abrupta às críticas nas redes sociais, à forte reação dos procuradores, ou à nota do juiz Sérgio Moro. Outros diziam que o recuo foi motivado pelas divergências entre as forças que defendem a própria impunidade. Uma turma avaliou que havia exagero na dose.
Se tudo foi definido na madrugada, executado com precisão pela manhã, alguma coisa não batia em todas essas explicações. No Palácio do Planalto, o clima era de apreensão. Ali, se sabia do explosivo do ex-ministro Marcelo Calero à Polícia Federal e já havia a suspeita de que ele gravara as conversas com Michel Temer e ministros.
O zum-zum-zum de que haveria algo mais ligou o sinal de alerta. Aumentou o nervosismo de Rodrigo Maia, padrinho político de Marcelo Calero. “Esse Calero enlouqueceu”, diagnosticou Rodrigo Maia.
O Planalto passou a se preparar para enfrentar a tempestade. Rodrigo Maia tratou de esvaziar a Câmara, em pleno clima de guerra. Partidários da anistia ao caixa 2 reclamavam que o adiamento da votação pode ter sido um tiro no pé. Pode mesmo.
Perderam as vantagens da surpresa e da tramitação relâmpago. Deram tempo para maiores mobilizações nas redes sociais. E não sabem como a República vai acordar na próxima terça-feira.
Resumo da ópera: o que Marcelo Calero contou à Polícia Federal, com uma penca de testemunhas, e mais as gravações de suas conversas com Michel Temer, Eliseu Padilha, Geddel Vieira Lima, entre outros, colocaram a Presidência da República no centro da crise.
O clima ficou muito pesado no Planalto. E, também, no outro lado da rua, na Câmara e no Senado. Tudo indica que a tal anistia ao caixa 2 pode subir no telhado. A parceria pela impunidade, que prevê a sanção por Michel Temer da anistia e de tudo o que Renan Calheiros pretende aprovar no Senado, pode cair do galho.