George Orwell (pseudônimo do escritor inglês Eric Arthur Blair) é referência universal pelo estonteante 1984, um romance publicado em 1949 sobre a tirania exercida por um estado totalitário, sob controle de uma elite privilegiada, pelo Grande Irmão — um Big Brother de todos os tempos, no caso inspirado pelo sufoco da ditadura stalinista.
A frase de maior sucesso atribuída a George Orwell é de que a história é escrita pelos vencedores. Talvez, por tão óbvia, nem seja dele. O fato é que alguns vitoriosos em disputas nem tão definitivas se apressam em criar uma nova versão para a história antes mesmo que ela ocorra.
Na espécie de Santa Ceia encenada domingo na Embaixada do Brasil em Washington, em que Bolsonaro foi ladeado à esquerda por Steve Bannon e à direita por Olavo de Carvalho, tentou-se vender o sucesso de um projeto que mal saiu da prancheta. Os ideólogos Olavo e Bannon, mais do que adesão a qualquer uma de suas confusas propostas, cobravam reconhecimento a seus próprios delírios intelectuais.
Bannon surfa em um apoio periférico ainda inconformado por ter caído em desgraça na corte de Donald Trump. Olavo continua obcecado com seu mal resolvido e ainda inexplicado trauma com a imprensa. Cobrado nas internas do bolsonarismo por, em um de seus espasmos, ter previsto que o governo não dura mais que seis meses, fez um adendo no twitter: “O governo não dura seis meses se não agir contra a mídia criminosa“.
A narrativa de Olavo de Carvalho e de sua tropa nas redes sociais é de que a mídia foi cúmplice das falcatruas dos governos petistas em seus 13 anos de reinado. E onde estava toda essa trupe nos escândalos que a a tal mídia revelou? Por exemplo, no Caso Waldomiro Diniz, em 2004, que apito tocou o deputado Bolsonaro?. No Mensalão e em outros escândalos denunciados pela imprensa qual papel teve essa turma?.
Antes dos seguidores de Olavo, os devotos de Lula detonavam a mídia, tendo também a Globo como alvo principal. A tal mídia é santa? Muito longe disso. Na história da imprensa brasileira sempre houve cumplicidade com o poder, mas também grandes momentos em o jornalismo virou o jogo. Nas mais complicadas situações, com limitações de todas ordens, o jornalismo foi a fonte confiável de informação.
Olavo e o clã Bolsonaro conhecem essa missa de cor e salteado. Muitas vezes nadaram nessa praia. Mas, no jogo deles, atacar a mídia serve para todos embates. Até para os que temem enfrentar. Quando Olavo diz que generais “mijam nas calças” ou se “cagam de medo” de jornalistas mais do que desdenhar a influência militar evita peitá-la de frente.
Tudo isso é meio fumaça. O que de fato une Steve Bannon a Olavo de Carvalho é conquistar um mega aparelho chamado Brasil para se credenciarem no jogo entre players internacionais. Querem um espaço aonde suas ideias possam ser testadas. O principal alvo da dupla, com o apoio dos irmãos Bolsonaros, é o Itamaraty. Olavo emplacou o chanceler Ernesto Araújo, mas o vice Hamilton Mourão, com o apoio dos militares, tem barrado aventuras que destoam da tradicional política externa brasileira.
Mesmo com toda a rejeição nacional, com o apoio dos filhos de Bolsonaro — um deles presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados — eles vão continuar insistindo.
A conferir.