O povo venezuelano está nervoso, desesperançado e triste. Mas a possível intervenção militar dos Estados Unidos no país não terá como objetivo de restaurar a democracia e a prosperidade na região.
Os noticiários da NBC, ABC, CNN, CBS e FOX News estão bombardeando os seus telespectadores com notícias de que o povo venezuelano está sendo preso, torturado e assassinado por um ditador. Os jornalistas do Tio Sam relatam que “o indefeso cidadão venezuelano está reivindicando liberdade e comida.”
A cobertura da crise da Venezuela ficará registrada, na história do jornalismo mundial, como um dos seus sujos e antiéticos momentos em termos de compromisso com o público e a informação.
“Adoraria ser capaz de unir o nosso país. Sem um grande evento em que as pessoas se unem, isso é difícil de acontecer. Mas eu gostaria de fazer isso sem esse grande evento, porque geralmente esse grande evento não é uma coisa boa”, desabafou o presidente Donald Trump no mês passado.
O que se quer, o que o presidente parece querer, é descobrir que evento é esse, capaz de unir todos os americanos.
Petróleo não será o motivo da invasão
Os Estados Unidos não precisam do óleo da Venezuela. A crescente produção de petróleo do país, da Rússia e dos membros da Organizações dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), controlada pelo Oriente Médio, auxiliou a abarrotar os estoques globais e a gerar um excesso de oferta em alguns mercados mundiais. Em menos de dois anos, os Estados Unidos serão autossuficientes em energia. “Estamos no caminho de ser o maior produtor de petróleo do mundo, o maior exportador de petróleo e um dos maiores consumidores”, informa Phil Flynn, analista sênior de mercado do Price Futures Group e autor do The Energy Report.
Apesar das diferenças ideológicas, os democratas e republicanos “concordam” que o povo venezuelano precisa ser libertado da “tirania” de Nicolás Maduro. Estamos assistindo uma versão caribenha da Primavera Árabe, que nem Glória Magadan subscreveria.
Os líderes mundiais muitas vezes desviam a atenção dos problemas internos com projetos mirabolantes no exterior. Em 1982, o regime militar na Argentina invadiu as Malvinas em uma tentativa de superar sua profunda impopularidade em casa.
No verão de 1998, no auge do escândalo Monica Lewinsky, o então presidente Bill Clinton confessou na televisão o seu relacionamento amoroso com uma estagiária da Casa Branca equivalia a “um lapso crítico de julgamento … um fracasso pessoal”. Três dias depois, com sua presidência na balança, a Casa Branca anunciou os ataques aéreos contra supostos locais terroristas no Sudão e Afeganistão, após o bombardeio de embaixadas dos EUA no Quênia e na Tanzânia. Diversos observadores políticos afirmam que Clinton entrou numa guerra clássica e diversificada para desviar a atenção da opinião pública, na busca de estimular o sentimento patriótico do povo americano e aumentar os seus índices de aprovação.
Estrategistas americanos não guardam boas lembranças do passado. A história registra desastrosas intervenções lideradas pelo Tio Sam em diversos cantos do planeta, principalmente na América Latina.
Com os últimos desdobramentos das investigações do procurador Roberto Mueller, Trump corre o rico de passar o resto da vida em uma prisão americana. Na tentativa de desviar a atenção da opinião pública, uma ação das Forças Armadas dos Estados Unidos na região do Caribe não será descartada. O presidente americano não tem nada a perder com uma invasão na Venezuela – mas causará um terremoto em todas as democracias na América do Sul.