O governo federal confia que governadores e prefeitos serão seus grandes aliados na reforma da previdência. Os chamados entes federados estão totalmente quebrados em suas finanças, sem outra saída que não descarregar na União os seus rombos e, assim, seguir respirando. Para isto, entretanto, terão de entregar os anéis e alguns dedos.
Neste sentido, mesmo os governadores dos partidos de oposição, inclusive do PT, o mais aguerrido dentre todos, terão de encontrar uma porta para entrar no bloco do “sim”. Não será fácil, pois tirar a fantasia é impossível.
Este acordão vai depender, na verdade, mais do governo encontrar uma saída honrosa para seus antagonistas. Como é normal em negociações sindicais: botar umas exigências para serem derrubadas e livrar a cara dos negociadores.
Com isto, mesmo aprovando, o PT poderá dizer que dobrou o governo. Este será o preço da vitória.
Coronéis da praia
É o mesmo caso da previdência dos militares. Todos os debates se concentram em torno das Forças Armadas, mas o caso mais grave desse segmento são as polícias militares, bombeiros e outras corporações que obedecem ao mesmo estatuto.
No Rio Grande do Sul, era conhecido o caso dos chamados “coronéis da praia”, que eram os reformados da Brigada Militar que, durante a Segunda Guerra Mundial, serviram em destacamentos dos municípios do litoral. Ali estavam teoricamente em zona de guerra, pois havia uma teoria de que a Alemanha de Hitler cobiçava o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, onde havia contingentes numerosos de ex-filiados ao Partido Nazista (que existiu com esse nome até a proibição).
Com isto, tropas do Eixo poderiam desembarcar. Esses militares, então simples soldados e cabos, foram subindo na hierarquia, turbinados pela legislação de guerra, chegando a coronéis na reforma, com salários nababescos na aposentadoria, várias vezes maior que o do próprio governador.
Assim como há coronéis da praia nos estados do Extremo Sul, há outros beneficiários de legislações especiais pelo Brasil afora. Aí é que mora o perigo.
Nariz tapado
Com isto, os estados, principalmente os pequenos, como os governados pela oposição (à exceção da Bahia), estão num beco sem saída. Somente as bancadas federais poderão salvar os governadores do colapso.
Multiplicado por mil, o mesmo acontece com os prefeitos. Por isto, todos aqueles que tiverem um parlamentar nas suas regiões, vão se ajoelhar diante dos deputados pedindo-lhes que esqueçam a sede de sangue e votem com o governo.
Este será mais um interessante capítulo em que as realidades da política vão superar as subordinações ao eleitoralismo. Como dizia um desses parlamentares: votar com o nariz tapado.