Pressão sobre tribunal foi gol contra de Gleisi Hoffmann

Senadora Gleisi Hoffmann (PT/PB).
Deputada Gleisi Hoffmann

Foi apenas um gol contra. O jogo não terminou, mas já passa da metade do segundo tempo. A esquerda lulista perde por dois a zero: gol de Sérgio Moro, condenando o ex-presidente Lula à cadeia; o segundo gol já aconteceu, contra, pela zagueira Gleisi Hoffmann. Os jovens desembargadores não aceitaram a “pressão popular” e deram uma resposta pragmática. A bola agora foi para a marca do pênalti.

A quarta-feira de sangue converteu-se num anticlímax, pois se Lula teve a pena aumentada, não foi preso nem calado. Todos voltaram para casa sem uma resposta imediata. Não dá para misturar a lógica dos tribunais com o calor das grandes manifestações. Nenhuma mobilização aguenta um prazo processual.

A continuar nessa levada, a partida termina em goleada: a esquerda leva mais um gol nos embargos, toma o quarto no STJ e, o placar final pode aumentar no Supremo. Então Lula irá para a prisão, talvez uma pena semiaberta depois de passar alguns meses na cadeia. Ou então foge para o Exterior, ganha um passaporte da ONU e ficará a vagar pelo mundo.

A possibilidade de o Supremo de alguma forma salvar Lula é remota, mas possível. Esta possibilidade foi muito bem explorada jornalisticamente na matéria do divergente João Gabriel Alvarenga. Voltemos a ela.

O STF é o último tribunal político do País. Todas as demais instâncias judiciais foram profissionalizadas e seus quadros preenchidos por concursos, por sinal muito rigorosos, demandando estudos e capacidade aos candidatos.

O Supremo também pode entrar nessa vertente se passar a proposta do senador gaúcho Lasier Martins de escolha técnica dos ministros do STF. Até lá ainda temos esse plenário que se assiste pela televisão. Os militantes dos partidos que apoiam o ex-presidente contam com isto para reverter às sentenças. É possível, pois aquela Corte sempre votou com o politicamente correto, demonstrando sua flexibilidade a pressões externas. É o último recurso.

Se isto acontecer os momentos finais dessa partida será dramático. De um lado militâncias estridentes procurando atemorizar as classes médias coxinhas acomodadas, e com isto dobrar o Judiciário; de outro a comunidade jurídica (OAB, advogados, juízes, promotores etc.) a defender o poder que conquistado, que se consubstanciaria na prisão do maior líder popular em ação no País. Será uma queda de braço sem precedentes. Como nunca na História deste País, diria Lula.

Entretanto, a esquerda deveria mudar a tática do jogo, reposicionando-se e encontrando outro artilheiro o quanto antes. Mantidas as penas, Lula terá que, gradativamente, sair de campo. Com novas derrotas na Justiça seria um tanto arriscado continuar vociferando contra os Tribunais e seus magistrados. Sem ele, a esquerda fica como a seleção de Felipão sem Neymar.

Muito interessante é especular sobre o cenário futuro, com Lula condenado. Será como foi com Perón, liberado da prisão pela multidão, criando a data sagrada do 17 de Outubro, o Dia da Lealdade Peronista? Perón venceu as eleições de 1945, escalou de presidente constitucional tornando-se ditador até ser deposto. Entretanto, assombrou a Argentina durante mais de 20 anos, até voltar senil para ser outra vez presidente, morrer no poder deixando no governo a vice-presidente, sua jovem mulher Isabelita, que fez mergulhar seu país na ditadura mais cruel da América Latina.

Os juízes não pensam nisto. Pelo contrário: seu poder deriva da impermeabilidade. A pergunta é: esta força institucional da Justiça deriva de uma bolha da falência de uma geração de políticos, ou o Brasil se civilizou? Certamente a resposta a isto será mais um serviço que Lula prestará à História do País, essa “nunca antes vista” que então tomaria outra forma. O contrário seria o caudilhismo. Não duvidem: essa tal “classe política” que está aí, representando interesses e causas ameaçados, é capaz de tudo. Os juízes que se cuidem.

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Jornalista há mais de 40 anos na imprensa econômica, foi editor executivo da revista Exame, editor e diretor da Gazeta Mercantil, editor chefe do Jornal da Globo e diretor geral de Jornalismo da Rede Bandeirantes. Foi repórter dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo, das revistas Realidade e Veja. Na televisão foi integrante da bancada do programa Crítica&Autocrítica da Rede Bandeirantes e âncora do programa Primeira Página da TV Nacional de Brasília. Autor, dentre outros, dos livros “Os Senhores da Guerra” (L&PM Editores) e “Cem Anos de Guerra no Continente Americano” (Editora Record). Produtor e roteirista de longas-metragens.