O ex-ministro Aldo Rebelo entregou nesta noite de segunda-feira uma carta propondo ao Partido Socialista Brasileiro (PSB) sua pré-candidatura a presidente da República. Ele entregou o documento na sede nacional do partido, em Brasília, ao presidente Carlos Siqueira.
O nome de Rebelo como integrante de uma chapa presidencial já surgira entre dirigentes do PSB do Rio Grande do Sul (falaram a favor o atual presidente do diretório regional, deputado José Stédile, antes de sua posse como chefe da Executiva estadual, e o deputado Heitor Schuch; no Paraná Rebelo foi lançado pelo presidente do diretório regional, Severino Nunes de Araújo, socialista histórico, companheiro de Miguel Arrais e defensor do posicionamento de nacionalismo ortodoxo defendido pelo pré-candidato nesta sua carta-manifesto).
Nas especulações da imprensa e de políticos que articulam outras pré-candidaturas, Aldo Rebelo foi lembrado como vice-presidente de várias chapas: seria o vice com Geraldo Alkmin, do PSDB; Joaquim Barbosa, numa chapa puro-sangue pelo próprio PSB ou outra legenda que acolhesse o ex-ministro do Supremo; de Ciro Gomes do PDT para dar um sabor sulista ao líder cearense, uma vez que tem suas bases em São Paulo e transita muito bem no Extremo Sul; com Lula, do PT, caso o PSB recompusesse com o ex-presidente; Ainda, surpreendentemente, com Jair Bolsonaro, com base numa tese surrealista, de que um comunista seria um passo à esquerda na chapa do capitão-candidato e, mais ainda, daria um sabor militar, pois Rebelo é identificado com o nacionalismo militar desde que foi Ministro da Defesa e várias vezes presidente da Comissão de Defesa da Câmara dos Deputados.
Rebelo não comenta essas fórmulas e acha hilariante estar na chapa com Bolsonaro. Entretanto diz: “se sou vice de tantos, porque não presidente?”.
Egresso do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) Rebelo propõe uma nova postura à esquerda e conclama o PSB, partido a que se filiou no fim do ano passado, a liderança desse novo posicionamento. As novas bases programáticas seria a retomada do nacionalismo como linha ideológica, o desenvolvimentismo e o redirecionamento das causas atualmente defendidas pelos partidos da vertente esquerdista.
No ponto mais polêmico, diz textualmente: “O PSB pode e deve assumir, na campanha, a bandeira histórica do nacionalismo de conteúdo democrático, banido do atual cenário político pelo cosmopolitismo de mercado das forças conservadoras e a renúncia ao ideário nacionalista pela maior parte das organizações de esquerda, hoje abraçadas com o multiculturalismo, o identitarismo e outras manifestações estranhas à unidade e coesão nacionais. Resta ao PSB acolher o grande órfão da desorientação geral dos tempos atuais: o Brasil”.
O mote proposto, que abre à carta-manifesto, diz: “A grave e profunda crise que enxovalha o passado, sabota o presente e compromete o futuro do Brasil como Nação livre, próspera e soberana”.
O momento eleitoral seria a hora para a produzir a unidade nacional: “As eleições de 2018 oferecem a oportunidade de o País reencontrar-se com sua vocação desenvolvimentista e democrática. O PSB tem condições de unificar um conflagrado campo de amplas forças políticas, econômicas e sociais, em torno de uma plataforma de reconstrução e afirmação nacionais”.
Veja a íntegra da carta:
Prezado presidente Carlos Siqueira,
A grave e profunda crise que enxovalha o passado, sabota o presente e compromete o futuro do Brasil como Nação livre, próspera e soberana impõe aos patriotas e democratas a missão cívica de levar ao povo brasileiro um programa de desenvolvimento e convívio democrático voltado ao fortalecimento da autonomia nacional e à melhoria do padrão de vida material e espiritual da população.
As eleições de 2018 oferecem a oportunidade de o País reencontrar-se com sua vocação desenvolvimentista e democrática. O PSB tem condições de unificar um conflagrado campo de amplas forças políticas, econômicas e sociais, em torno de uma plataforma de reconstrução e afirmação nacionais.
O PSB pode e deve assumir, na campanha, a bandeira histórica do nacionalismo de conteúdo democrático, banido do atual cenário político pelo cosmopolitismo de mercado das forças conservadoras e a renúncia ao ideário nacionalista pela maior parte das organizações de esquerda, hoje abraçadas com o multiculturalismo, o identitarismo e outras manifestações estranhas à unidade e coesão nacionais. Resta ao PSB acolher o grande órfão da desorientação geral dos tempos atuais: o Brasil.
Em momento semelhante ao que atravessamos hoje, no início dos anos noventa, logo após o impedimento do presidente Fernando Collor, o então presidente do PSB, Miguel Arraes, publicou documento de orientação política, ainda de grande atualidade, intitulado “A Questão Nacional”, no qual alertava para a centralidade do interesse nacional na grave conjuntura que se avizinhava.
Equidistante das falsas polarizações e liderando o ideário nacionalista e de redução das desigualdades sociais, o PSB pode e deve oferecer ao Brasil uma agenda mobilizadora de segmentos empresariais da cidade e do campo, dos trabalhadores urbanos e rurais, e das camadas médias interessados na retomada do crescimento da economia, sem o que não há solução possível para a crise fiscal, previdenciária e de financiamento das obrigações nacionais relacionadas com a defesa do País, infraestrutura, ciência e tecnologia, educação, saúde e segurança pública.
Fundado em 1947, o PSB não é só uma das mais antigas agremiações políticas como se mantém fiel a um programa de defesa dos interesses estratégicos do Brasil, visando à construção de um grande País à altura de seu povo trabalhador e generoso. A militância aguerrida continua a honrar a causa nacional sustentada no PSB, entre tantas outras enumeráveis, por figuras históricas da estatura de Adalgisa Nery, Antônio Cândido, Antônio Houaiss, Barbosa Lima Sobrinho, Evandro Lins e Silva, Evaristo de Moraes Filho, Hélio Pelegrino, Hermes Lima, João Mangabeira, Joel Silveira, José Honório Rodrigues, José Lins do Rego, Jamil Haddad, Paulo Emílio Sales Gomes, Rubem Braga, Sérgio Buarque de Holanda e Eduardo Campos.
Evocando esses valores, tomo a liberdade de propor ao Partido a participação no debate eleitoral de 2018 com uma candidatura escolhida entre os diversos quadros partidários habilitados para a disputa da Presidência da República. Entre as opções, ofereço ao PSB o meu nome e a minha contribuição para que possamos buscar o protagonismo alcançado nas eleições presidenciais recentes com o saudoso companheiro Eduardo Campos.
O desafio que se apresenta no horizonte político-eleitoral é o de relançarmos a candidatura própria, ancorada em múltiplas alianças e nomes testados na vida pública, com vistas à execução de um fecundo Projeto Nacional.
Arautos da desesperança procuram nos impingir o passado como vergonha e o medo como futuro. É hora de reagir, reafirmando o orgulho do nosso passado e a confiança no futuro. Esperança e coragem: é o que o Brasil espera de nós.
Brasília-DF, 8 de janeiro de 2018.
Cordialmente,
Aldo Rebelo